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#ComDados: Estudos falsos ou de pouca credibilidade viralizam nas redes sociais usando o nome de universidades famosas

#ComDados: Estudos falsos ou de pouca credibilidade viralizam nas redes sociais usando o nome de universidades famosas

maio 26, 2021

Não, Stanford não publicou uma pesquisa que traz resultados contrários ao uso de máscaras. Só nos EUA já não é necessário usá-las.

Por: Cristina Tardáguila

Adultos que tomaram as duas doses da vacina contra a COVID-19 já não precisam usar máscaras ao sair de casa, seja para participar de eventos em locais fechados ou para caminhar em locais abertos. Este anúncio, no entanto, só é válido para quem está nos Estados Unidos. É uma decisão do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) que só pode ser adotada em território americano. Não é uma autorização global nem tem qualquer relação com possíveis efeitos colaterais causados ​​pelas máscaras. Muito cuidado com as mentiras que estão circulando nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens sobre este assunto.

Desde o dia 13 de maio, quando a Casa Branca descartou a obrigatoriedade de máscaras faciais por parte de pessoas já totalmente imunizadas contra o novo coronavírus, vários ataques a esse tipo de proteção facial voltaram a circular online.

Alguns disseram que a decisão do CDC se aplicaria a outras partes do mundo, como forma de desencorajar seu uso. Outros mentiram ao falar sobre a produção e o uso de máscaras, com a intenção de aumentar o pânico. E esse são dois cenários que merecem um combate intenso e claro.

É aí que entram os checadores de fatos. Nos últimos dias, várias equipes que trabalham em língua espanhola republicaram artigos enfatizando que o uso de máscaras não causa pneumonia ou câncer em crianças. E que – obviamente – as máscaras não são pulverizadas com produtos químicos. Quer dizer: são inofensivas e necessárias.

Mas uma falsidade – um pouco mais elaborada – merecia (e merece) atenção extra da imprensa. Trata-se da difusão de um estudo supostamente feito pela Universidade de Stanford que teria mostrado que as máscaras são prejudiciais a seus usuários.

Checadores de dados da Newtral e da Maldita.es, na Espanha, trabalharam no assunto nos últimos dias e classificaram esta informação como sendo falsa. Nem o estudo que ganhou vida nas redes é de Stanford nem possui respaldo científico. Em outras palavras, não deveria ser considerado como uma fonte confiável.

Mas o que é importante nesse caso é que, ao nomear uma universidade mundialmente renomada, os desinformadores se aproveitaram da confiança que a marca gera para, obviamente, ganhar mais alcance e mais seguidores.

Então como devemos combater esse tipo de mentira, que faz referência a uma fonte confiável para espalhar notícias falsas?

Bom, exatamente como fizeram Newtral e Maldita. Ao trabalhar com um tema desse tipo, é fundamental ser didático e ter muita paciência com o leitor. É preciso contar a ele uma história e lembrá-lo de que a ciência está em constante evolução. Vamos juntos, no passo a passo.

O primeiro estágio de uma verificação como essa feita sobre o estudo de Stanford é simples. Consiste em tentar localizar os documentos que são compartilhados nas redes socias e apps de mensagens na fonte que foi nomeada.

No caso das máscaras, os checadores descobriram que a pesquisa havia realmente sido publicada, mas pela revista Medical Hypothesis em janeiro de 2021. Eles descobriram  também que o texto havia sido retratado em maio. O que deveria deixar qualquer um de orelha em pé.

Mas o que significa ser retratado?

“Em outras palavras, o Comitê Editorial da revista retratou o artigo após determinar que a hipótese do autor era ‘enganosa'”, escreveram os verificadores da Newtral.

“Uma revisão mais ampla das evidências científicas existentes mostra claramente que as máscaras aprovadas com a certificação correta e usadas de acordo com as diretrizes de saúde são uma prevenção eficaz da transmissão do COVID-19”, afirmou o Comitê Editorial da revista.

A segunda etapa é analisar os autores do estudo. Neste ponto, algumas perguntas podem ajudar: Os autores do documento geralmente pesquisam tópicos semelhantes? Têm algum vínculo com empresas farmacêuticas, redes de hospitais ou clínicas que possa ser considerado conflito de interesses?

Após essa etapa, é hora de avaliar a metodologia utilizada. E existem duas formas aqui: uma é entrevistar outros especialistas no mesmo tema e identificar se eles têm alguma crítica à metodologia adotada. A outra maneira é ir primeiro aos documentos anexados ao estudo e fazer uma avaliação pessoal (ou de equipe). No caso de Stanford, por exemplo, as tabelas sobre os alegados efeitos colaterais das máscaras continham dados “não verificados” e “alegações especulativas”. Além disso, “o manuscrito citava de forma seletiva artigos publicados anteriormente”, alertaram os checadores.

Desde o início da pandemia, muitos estudos de baixa qualidade foram divulgados para defender falsas medidas de prevenção, falsos métodos de cura e, agora, falsas informações sobre vacinas e máscaras. Desmontá-los exige estratégia, persistência e disposição para ensinar o público.

Não se esqueça de que

As decisões do CDC só têm efeito nos Estados Unidos. Cada país tem suas próprias autoridades sanitárias, e as decisões locais têm a ver com a realidade de cada nação diante da pandemia.

A desinformação que depende de marcas respeitadas para se espalhar é extremamente poderosa.

Estudos científicos falsos requerem estratégia de combate:
1. Primeiro procure as informações na fonte citada.
2. Conte a história do documento e explique os termos mais difíceis.
3. Avalie o currículo dos autores e a metodologia adotada.
4. Se possível, analise os documentos anexados à pesquisa.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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