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5 passos para um jornalismo de saúde com rigor científico
O tratamento contextualizado e com domínio técnico do tema é um dos critérios de avaliação e escolha do trabalho vencedor segundo as Bases do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde, que está com as inscrições da nona edição abertas para o público até 9 de junho de 2021.
Consultamos alguns dos jurados de edições anteriores do Prêmio Roche para conhecer suas recomendações sobre como ter rigor científico na cobertura de temas de ciência e saúde. Aqui estão as reflexões:
Pensar previamente no impacto
Apesar de se colocar o rigor científico como uma das principais características dos trabalhos no jornalismo de saúde, Daniela Pinheiro, jornalista brasileira e bolsista da Reuters Institute for the Study of Journalism na Universidade de Oxford (Inglaterra), incluiu outro elemento que também leva ao rigor científico: o impacto.
Segundo a jornalista, ainda que o rigor científico seja fundamental, a análise prévia do impacto da informação a ser divulgada é muito importante e “impregna todo o jornalismo”. Pinheiro indica que é necessário se perguntar: Por que são feitas essas histórias ou reportagens?; O que se espera com isso?; Procura-se um impacto local ou nacional de grande relevância?
“Esperamos que algo mude (com as reportagens). Esperamos que a situação que estamos informando ou investigando não se repita se é uma má situação, que ela acabe, por exemplo”, comentou.
Descontaminar as fontes
Uma das principais noções no exercício jornalístico é o contrataste da informação. Dar espaço a distintas vozes, fontes ou personagens em uma história é fundamental em qualquer área do jornalismo. Entretanto, para Pablo Linde, jornalista de saúde espanhol no jornal El País da Espanha, quando se fala de jornalismo científico ou de saúde é necessário ter extrema cautela ao “dar voz a todos os que opinam sobre um tema” ou, inclusive, reconsiderar o contraste mencionado.
Segundo o jornalista espanhol, muitas vezes essas opiniões “estão contaminadas por falácias ou superstições cuja publicação pode ser prejudicial. Não é igual uma opinião baseada em evidência que outra baseada em crença. É preciso dar voz apenas à primeira”.
Buscar novos contrastes
O rigor no jornalismo de saúde é uma “questão básica” para Alipio Gutiérrez, jornalista, apresentador de diversos programas na Espanha e presidente da Associação Nacional de Informadores da Saúde (ANIS) da Espanha. “Não basta o que me diz uma fonte. Preciso de dois ou três fontes que me confirmam a informação, e para isso é necessário procurar quem apresenta evidência científica”, disse o jornalista.
Geralmente, seguiu Gutiérrez, tal evidência está em mãos ou é de conhecimento das autoridades sanitárias, mas a experiencia lhe ensinou que é necessário ir além, criando vínculos com outros autores das áreas científica e sanitária, como as associações científicas, por exemplo: especialistas em urologia, cardiologia, doenças infecciosas, epidemiologia, entre outros.
“Não podemos ser equidistantes na hora de tratar sobre os assuntos que afetam a saúde. Estamos com a ciência, com a evidência científica e isso deve prevalecer. Temos que buscar o contraste de opiniões com os colégios profissionais, com as sociedades científicas, com as associações de pacientes e pendentes das autoridades sanitárias que são as principais responsáveis”, afirmou.
Atualizar a informação
Depois da análise do impacto da informação a ser trabalhada, o contraste correto e a consulta a diversas fontes, é necessário mais uma etapa na busca do rigor científico, posterior à publicação do tema: a atualização do conteúdo. Para Alipio Gutiérrez, este passo é essencial levando em conta que se trabalha um assunto delicado como a saúde a vida do público.
Gutiérrez também disse que para “caminhar” em direção a um jornalismo de precisão no âmbito sanitário “temos que estar muito atentos às mudanças e à evidência científica, porque o que hoje pode parecer ser o certo para todos – em função de uma evidência – provavelmente em 10 anos não será tão bom ou será ainda melhor, e há que contar isso, atualizar essa informação”, explicou o jornalista, classificando essa prática como um esforço para o rigor que devem ter os jornalistas de saúde.
Investir no jornalismo de ciência e saúde
Para Patricia Fernández de Lis, jornalista espanhola, fundadora e diretora da web de notícias Materia, associada com o jornal El País, outra forma de alcançar o rigor científico é os meios de comunicação investirem em jornalistas de ciência e saúde.
“Em geral há um nível muito bom (na América Latina). O que eu gostaria é que fosse mais estável, que não fosse por causa de uma pandemia que os meios de comunicação decidissem investir nesta informação, mas que tivéssemos informação de ciência e saúde série a rigorosa todos os dias do ano”, comentou.
Ainda assim, para a espanhola, a pandemia causada pela COVID-19 e que segue atacando o mundo tem sido um alerta para os meios de comunicação reverterem essa situação e darem mais espaço e participação a jornalistas de ciência, levando em conta “o valor e a importância da boa informação científica-técnica em temas de saúde, porque é o que mais afeta o cidadão”.
Sobre o Prêmio Roche
O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.
Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.
Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!