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O jornalismo de saúde em tempos de pandemia, segundo os assessores para a menção honrosa de Cobertura da COVID-19

O jornalismo de saúde em tempos de pandemia, segundo os assessores para a menção honrosa de Cobertura da COVID-19

dezembro 23, 2020

A conjuntura gerada pela pandemia da COVID-19 levou à criação de uma menção honrosa à cobertura jornalística do problema sanitário na oitava edição do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde. A menção deu destaque ao melhor trabalho sobre o tema inscrito no prêmio, focado na sustentabilidade dos sistemas de saúde da América Latina e sua capacidade para responder à crise e prover atendimento à população. ‘Cobertura da Agência Pública sobre o coronavírus’, um trabalho jornalístico da Agencia Pública, ganhou o reconhecimento.

Um grupo de assessores se uniu ao jurado do Prêmio Roche 2020 para selecionar o vencedor do reconhecimento. Nesta ocasião, e em meio à incerteza da nova normalidade, as jornalistas Roxana Tabakman e Patricia Fernández de Lis, junto ao médico e epidemiologista Álvaro Javier Idrovo, foram os assessores para a menção honrosa sobre Cobertura Jornalística da COVID-19.

Para o cientista do grupo, “a pandemia é como uma lupa que nos fez ver certas coisas maiores do que normalmente eram vistas e que, ainda que importantes, estavam ocultas”. 

Opinião similar expressaram as especialistas em jornalismo de ciência e saúde em relação a esta área do ofício. “Neste momento comprovamos que é mais relevante que nunca. Sem jornalistas de ciência e saúde não compreenderíamos qual é o alcance da pandemia, qual é o nosso papel nela e qual é o papel dos cientistas”, assegurou Patricia Fernández de Lis.

Para Roxana Tabakman, o Prêmio Roche é um farol que aumenta a relevância do jornalismo de saúde na América Latina e “ilumina caminhos alternativos” a outros jornalistas, ao expor as seleções do jurado em diferentes categorias e nesta menção honrosa. “Agora é o melhor momento para mostrar os valores, a destreza técnica, os cuidados, e tudo o que pode significar uma busca por excelência no jornalismo de saúde, para que a pandemia deixe uma boa marca”, disse.

“Desinformação de qualquer tipo”

Se o sensacionalismo sempre foi uma ameaça ao jornalismo, neste ano as fake news foram uma praga ainda pior para a informação. “Mais que o sensacionalismo, o que hoje me preocupa e se impõe, e foi ainda mais evidente no início da pandemia, é a desinformação de qualquer tipo”, explicou Roxana Tabakman, assessora para a menção honrosa na cobertura da COVID-19.

Dessa forma, Tabakman reconhece que para a cobertura jornalística da COVID-19 é ainda mais valiosa e necessária a capacidade do jornalista ou da equipe de alcançar o equilíbrio em seus trabalhos, já que no caso da pandemia o sensacionalismo não é o único inimigo da informação.

Tabakman aponta que o sensacionalismo é reconhecido “na falta de qualidade, nas manchetes, no tratamento gráfico, na luta feroz pela atenção no campo de batalha que é o mundo virtual”. Mas, esclarece a jornalista, evitar o sensacionalismo não significa se desfazer da emoção no trabalho jornalístico, a qual – para ela – é imprescindível e aporta uma “vitalidade insubstituível” aos trabalhos.

Investimento na cobertura de saúde

Para Patricia Fernández de Lis, que dirige a seção de Ciência do jornal El País, da Espanha, “é realmente fundamental que se siga investindo no jornalismo de ciência e saúde na região e prêmios como este cumprem esse objetivo”.

Patricia agregou que uma das lições da pandemia para os meios de comunicação é que “não só a audiência é muito relevante, mas também estar a serviço de todos os leitores, ouvintes ou espectadores e, para isso, é fundamental ter uma boa equipe de jornalistas de saúde”.

A jornalista também destacou os trabalhos dos jornalistas da América Latina na cobertura da pandemia. “Nota-se o esforço dos jornalistas em buscar dados quase embaixo das pedras e colocá-los em contexto com a situação social que estão vivendo”, afirmou Fernández.

“Vi muita originalidade na forma de se aproximar da pandemia. Isso abriu a todos um caminho que espero que não se feche, que seja só o começo de uma maneira de informar e de um grande investimento em meios para se criar uma boa informação de saúde, não só com aumento do número de jornalistas, mas também com aumento dos recursos para infográficos, vídeos ou podcasts”, agregou.

Recomendações da ciência

Álvaro Javier Idrovo, que deu a visão da ciência e da saúde como assessor do grupo de jurados, destacou o trabalho árduo em equipe que se refletiu nos produtos jornalísticos avaliados e, especialmente, no que recebeu a menção honrosa na Cobertura Jornalística da COVID-19.

Para o especialista, a cobertura de uma situação como esta se converte em um “trabalho difícil, que requer investigação e sobretudo trabalho em equipe. O trabalho vencedor cumpriu isso facilmente, porque teve as características de uma boa equipe para não perder de vista o panorama amplo entre seus integrantes”.

É precisamente essa característica um dos aspectos identificados por Idrovo para elaborar, desde o ponto de vista científico, um trabalho equilibrado sobre a COVID-19. Aqui vão outros aspectos para levar em conta:

1. Trabalho em equipe: contar com uma equipe completa (fortalecida com diagramação, audiovisual, som) que entenda todas as situações do produto que se quer fazer. 

2. Aptidão: ter a capacidade de estabelecer um diálogo com especialistas e ter um conhecimento mínimo do método científico.

3. Discernimento: ter a capacidade de distinguir ou identificar quem é especialista e quem não é em uma situação tão específica como esta.

4. Chegar ao público geral: leva uma tradução adequada do conhecimento de ciência e saúde para a audiência.

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