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Como os jornalistas podem proteger a saúde mental na cobertura de uma crise?

Como os jornalistas podem proteger a saúde mental na cobertura de uma crise?

março 10, 2021

A atual crise de saúde não dá trégua no mundo da informação. A pandemia gerada pelo vírus COVID-19 se mantém como a principal notícia e, por isso, é a primeira ocupação dos jornalistas que já estão cobrindo o tema há mais de um ano.

A exposição a este trabalho intenso – invadido pela incerteza, desinformação e risco – desencadeou consequências na saúde física e mental dos jornalistas. Essa última ligou o alarme entre os profissionais da área, já que pode passar despercebida por alguns comunicadores em meio à rotina puxada.

Conscientes dessa situação, o International Center for Journalists (ICFJ) e o Tow Center for Digital Journalism da Columbia University fizeram o estudo Journalism and the Pandemic Project para conhecer o impacto da pandemia entre os jornalistas ao redor do mundo. Para isso, entrevistaram mais de 1.400 jornalistas de 125 países.

Apesar de que 43% dos entrevistados manifestarem sentir um aumento na confiança da audiência no jornalismo produzido, e 61% deles reportarem sentir um maior compromisso com o jornalismo como resultado da pandemia, o primeiro relatório mostra resultados alarmantes para esses profissionais no primeiro ano da pandemia:

– 70% dos entrevistados qualificaram o impacto psicológico e emocional de lidar com a crise por COVID-19 como o aspecto mais difícil de se suportar durante o trabalho.

– 30% dos jornalistas manifestaram falta de entrega pelos meios de comunicação de materiais ou equipamentos de proteção.

– 46% dos entrevistados ressaltaram ter desconfiança nos governos, ao identificar políticos e representantes do poder público como fontes de desinformação.

– 66% dos entrevistados apontaram o Facebook como o meio de maior propagação de desinformação.

– 81% dos entrevistados disseram encontrar desinformação aos menos uma vez por semana. 28% dos jornalistas asseguraram identificar informação falsa várias vezes em um dia.

A preocupação pelo bem-estar e a saúde mental dos jornalistas em meio à pandemia gerou discussões em diversos cenários relacionados a este ofício. O Dart Center for Journalism and Trauma, por exemplo, projeto da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, realizou seminários virtuais sobre o trabalho de reportagem em meio à cobertura da pandemia causada pelo coronavírus.

Dicas para auto-cuidado e apoio a colegas durante a pandemia

No seminário web Self-Care and Peer Support for Journalists During a Global Pandemic, Cait McMahon, doutora em Psicologia e diretora do Dart Center Ásia-Pacífico, deu algumas dicas para a melhora da saúde mental dos jornalistas em meio à rotina extenuante de trabalho. Aqui vão alguns desses conselhos:

1. Disciplina com o auto-cuidado: Mantenha rotinas de auto-cuidado com o apoio dos diretores e editores do seu meio de comunicação.

2. Um propósito claro: Acredite em seu papel como jornalista em meio à crise para lidar com o stress de uma melhor maneira. Escreva uma frase na qual sua missão esteja clara. Isso te ajudará a lembrar do teu trabalho de divulgar histórias claras, precisas e éticas.

3. Limites e distancias: Estabeleça um plano de trabalho e siga-o. Exercite-se, ainda que seja uma aula curta de 10 minutos de yoga. Descanse durante a cobertura ou produção da história para voltar ao trabalho com o olhar renovado. Considere mudar ocasionalmente o lugar de trabalho na casa.

4. Experimento mental: Crie em tua mente um lugar seguro, com sensações auditivas e físicas. Mantenha a imagem desse espaço e visite-o por 5 ou 10 minutos todos os dias. O cérebro precisa deste distanciamento psicológico do trauma que se está cobrindo para poder funcionar.

5. Seja um bom colega: Utilize qualquer rede social ou aplicativo de videochamada para ficar em contato com seus companheiros de trabalho ao início de cada dia de trabalho. Mantenha-se alerta sobre o estado de ânimo de seus colegas. Leve em conta que para algumas pessoas é difícil pedir ajuda.

Por que falar de gestão do stress no jornalismo?

Outro canal que se fala sobre auto-cuidado e proteção da saúde mental dos jornalistas é o projeto The Self-Investigation, uma iniciativa de mulheres jornalistas preocupadas com a saúde mental de seus colegas durante a pandemia e que se baseia em técnicas cientificamente comprovadas para administrar o stress e se relacionar com a tecnologia de uma maneira mais saudável.

Atualmente, e como parte do projeto, é oferecido um curso de gestão de stress para jornalistas, que começou recentemente com um seminário web. O curso está orientado a entender porquê acontece o stress e como é possível ativar o “mecanismo da calma” que permite recuperar o foco e a concentração no trabalho com uma técnica de respiração: sentados, com os olhos fechados, atenção na postura e na zona dos ombros e pescoço, para trazer a mente ao presente e conectá-la com o corpo, com uma respiração lenta e profunda.

Aldara Martitegui, jornalista e instrutora de mindfulness e coach do projeto, identificou como consequências do stress nos jornalistas o aumento dos erros no trabalho, a síndrome da “folha em branco”, sentimentos de desconcentração e falta de foco. Os exercícios de respiração reconectam mente e corpo e acalmam o sistema nervoso.

“O stress não é mais que um desgaste produzido em nosso organismo como consequência de ter ativado por um longo tempo um mecanismo que temos e que é considerado um sistema de alerta ou de alarme, feito para que o ser humano ou qualquer outro ser vivo possa sobreviver em um dado momento”, explicou a jornalista espanhola durante o seminário web.

“(O stress) produz um curto-circuito na zona do nosso cérebro que abriga essas funções executivas superiores que nos permitem ser bons jornalistas (…) porque toda a energia do cérebro está concentrada na sobrevivência como resposta a uma suposta ou possível ameaça”, afirmou.

A boa notícia, assegura a coach, é que existe um mecanismo de calma que é possível ativar intencionalmente para anular o alarme gerado pela situação estressante.

“Para ativar o sistema de calma é necessário a “tecla” da respiração profunda e lenta, e a atenção nos ombros. Prestamos atenção aos ombros e ao corpo, deixando que relaxem (…) O cérebro interpreta o que acontece dentro de nós e, através do nervo vago, comunicamos a ele que estamos calmos, desativando o curto-circuito criado, e começamos a ver soluções, a ser mais criativos, trabalhar mais enfocados, ser melhores jornalistas”, indicou Martitegui.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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