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O jornalismo de saúde entre o narrativo e o digital: reflexões de uma jurada do Prêmio Roche

O jornalismo de saúde entre o narrativo e o digital: reflexões de uma jurada do Prêmio Roche

agosto 18, 2022

“As pessoas não querem mais ler”. Como jornalistas, certamente já escutamos essa frase, sobretudo quando trabalhamos em um meio de comunicação. E em um mundo inundado por TikToks, reels, shorts e histórias, não é estranho que muitos pensem assim.

Mas para Sabrina Duque, jornalista, tradutora e uma das juradas do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde 2021, “é um mito o leitor que não lê. O que temos são leitores com necessidades diferentes de acordo com a situação”. E são essas necessidades, assegura a equatoriana, que vão indicando como a informação deve ser divulgada atualmente.

A necessidade de levar em conta novos formatos e suportes ao fazer a reportagem é indiscutível; mostra disso é o fato de que os meios de comunicação tradicionais têm perfis nas redes sociais para maior difusão de suas notícias. Há, inclusive, meios que surgem e vivem unicamente nessas plataformas.

Duque não tira a importância da parte gráfica e de ajudas visuais em um trabalho jornalístico, mas afirma que o básico é o texto, porque pode atrair, segurar e envolver o leitor. “Não podemos nunca menosprezar o valor da narrativa. Que o repórter saiba contar bem a história, que faça o leitor sentir que está no local dos fatos e compreender o que está sendo contado é algo maravilhoso e que só pode ser conseguido com uma boa narrativa”, diz.

Segundo a jornalista, para encaixar uma boa narrativa, deve-se ir além do “do mero registro de algo, de dar uma visão medíocre do que está acontecendo. É preciso encontrar a forma de contar uma grande história, bem escrita, e que o público a leia e fique preso nela assim como você fica preso a um bom conto.”

Para a jurada na categoria Jornalismo Escrito do Prêmio Roche 2021, outras lições também são importantes para não deixar para trás a qualidade narrativa. Ela observou algumas dessas lições durante a avaliação dos trabalhos inscritos na edição deste ano da premiação.

“A grande força motora do jornalismo é o trabalho em equipe; inclusive em textos nos quais há só um ou dois autores, existe um trabalho de muitas outras pessoas atrás deles: o editor, por exemplo; um checador de dados, entre outros. Algo que também deve sempre estar presente é a originalidade. Deve-se buscar textos que fujam do que já está muito visto e dar um passo além na cobertura”, assegura.

O exemplo

Apesar da importância de se manter, para Sabrina Duque, o valor do jornalismo escrito, dos textos longos e das histórias detalhadas, que grudam nas pessoas e se tornam uma companhia para o leitor, ela compreende a necessidade de aterrizar o presente no digital, imediato e diverso, o ambiente em que vivemos atualmente.

Sabrina usa o The New York Times como um exemplo de um meio tradicional que não ficou no passado e segue mostrando o caminho com novas tecnologias e maneiras de informar. Não há um meio mais tradicional e que esteja, ao mesmo tempo segundo a jornalista, na vanguarda dos formatos digitais, alcançando um grande número de assinantes. “É um grande mastodonte que não fica no passado, segue indo pra frente e abrindo caminho”, diz.

No caso da América Latina, Sabrina Duque cita La barra espaciadora, Plan V e Salud con Lupa como meios de comunicação que compreenderam que para fazer o jornalismo que queriam deveriam deixar o tradicional para atrás e assimilar como a internet mudou o panorama.

“O conteúdo não pode ser o mesmo para todas as plataformas usadas para informar agora (…) Dinheiro e recursos – e a falta desses – não são um impedimento para fazer o que as novas plataformas e formas de informar estão pedindo. É uma questão de vontade”, enfatiza a jornalista.

E o Jornalismo de saúde?

Segundo Sabrina Duque, a cobertura jornalística das pautas de saúde é um cenário no qual a descrição do escrito pode se aliar a uma grande diversidade de formatos e plataformas de difusão a favor do público, pela utilidade e capacidade de ensinar algo novo e para se estar próximo das pessoas através do que se informa.

Sua experiência como jurada do Prêmio Roche em 2021 lhe permitiu conhecer novos jornalistas e meios de comunicação nativos digitais, que – assegura – usam e divulgam dados, cifras e informação em geral com destreza, sobretudo com o bom uso dos formatos digitais e visuais, com qualidade narrativa e sem cair no clickbait para ganhar influência.

“Há uma inquietação nos repórteres que sentem que (o jornalismo de saúde) é seu caminho. Ninguém está fazendo isso, então eles assumem a tarefa”, opina a equatoriana, também lembrando que o nível de originalidade e qualidade da cobertura de saúde atualmente na região vem deles. “O jornalismo de saúde não é só cobrir uma pandemia, é ver as estruturas, ver as vulnerabilidades, ajudar as pessoas com tudo o que tenha a ver com bem-estar e ciência”, conclui.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca premiar a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade sobre temas de saúde e ciência na América Latina, integrando os olhares sanitário, econômico, político, social, entre outras áreas de investigação no jornalismo.

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