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#ComDados. Atenção a fotos e vídeos sobre COVID-19 na Índia: é preciso verificá-los

#ComDados. Atenção a fotos e vídeos sobre COVID-19 na Índia: é preciso verificá-los

maio 19, 2021

Pânico gerado pela nova cepa identificada nesse país aumentou a disseminação de falsidades sobre a pandemia. Aqui você encontra um passo a passo para identificar algumas delas. 

Por: Cristina Tardáguila

Todos aqueles que lutam contra a desinformação sabem que ela se alimenta do pânico e do medo. Nos últimos dias não foi diferente.

Ao anunciar que a nova cepa de coronavírus detectada na Índia seria classificada como assunto de “preocupação global”, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou a tensão em todo o planeta. Os países vizinhos da Índia fecharam suas fronteiras. Outros, mais distantes, mudaram suas políticas de saúde em relação aos indianos. O objetivo era evitar que a cepa B.1.617, que parece ser mais facilmente transmitida, se espalhe para o resto do mundo.

As medidas governamentais são, no entanto, totalmente incapazes de prevenir a desinformação. E as notícias da Índia geraram ansiedade em todos os cantos. Resultado: na última semana, a comunidade internacional de checadores de fatos teve que lidar com várias informações falsas relacionadas à Índia, principalmente em formato de vídeos e imagens.

Em 6 de maio, uma gravação de um minuto viralizou em inglês, francês e espanhol em várias publicações antivacinas, mostrando uma multidão perseguindo e jogando objetos (até mesmo pedras) no que seria uma equipe de vacinação da Índia. A mensagem que acompanhava o vídeo sugeria que o ataque havia sido uma resposta à “correlação entre o aumento de vacinados e o aumento de mortes” no país.

A gravação, no entanto, nada tem a ver com o programa de vacinação indiano. Os checadores de fatos de EFEVerifica, Maldita.es e Newtral, na Espanha, além de Animal Político, no México, mostraram que o vídeo foi feito em 23 de abril e que refletia o momento em que a polícia tentou dissolver uma feira que não cumpria as medidas sanitárias contra a COVID-19. Também explicaram que, segundo dados públicos oficiais, não há correlação entre o aumento do número de pessoas vacinadas e o total de óbitos na Índia. A vacina continua sendo a melhor forma de proteção contra o novo coronavírus.

No dia seguinte, 7 de maio, outra mentira semelhante circulou pelas redes e pelos aplicativos de mensagens. Com o objetivo de desmentir o drama hindu e minimizar os riscos relacionados à pandemia, grupos negacionistas divulgaram uma foto de um cemitério improvisado no meio da rua dizendo que, na realidade, a imagem refletia o resultado de um vazamento de gás em uma fábrica na Índia. Ou seja: não teria nada a ver com mortes decorrentes de COVID-19.

Falso, segundo mostraram os verificadores mais uma vez. A imagem em questão foi tirada em 27 de abril e exibia mortos de COVID-19 em um crematório montado no meio da rua por falta de caixões. A foto realmente (e infelizmente) refletia todo o horror vivido pelos indianos.

Mas, além de saber que existe falso conteúdo audiovisual sobre a Índia circulando em vários idiomas, é importante ter uma estratégia para verificá-lo com rapidez. Nesses dois casos, os checadores não apenas usaram técnicas básicas de verificação de imagens, mas também se comunicaram com a imprensa da região. Eles fizeram, portanto, uma verificação dupla: com ferramentas online e com humanos, até mesmo em outro idioma.

Em seu texto, Animal Político conta o processo em detalhes. Primeiro fizeram uma captura de tela do vídeo do suposto ataque a profissionais de saúde e, a partir desse frame, usaram a busca reversa de imagens do Google.

Lembre-se de que um vídeo consiste em uma série de imagens em movimento. Assim, ao verificar uma gravação, podemos tratar seus vários frames como fotos e aplicar todas as ferramentas existentes para verificação de imagem a este conteúdo. Estas são as mais comuns e simples: Google Imagens, TinEye, Bing e Yandex.

A EFEVerifica informou, por sua vez, que a busca reversa das imagens extraídas do vídeo levou à publicação da edição digital do diário indiano Dainik Bhaskar de 23 de abril. O texto está escrito em hindi. Portanto, o time precisou usar o Google Translate.

A Newtral fez outra parte importante do processo: analisou o perfil que mais difundiu essa desinformação em espanhol. E, ao fazê-lo, detectou que se tratava de uma conta do Twitter que é descrita como um espaço dedicado a fornecer “informações e notícias censuradas do coronavírus” e que, recentemente, dizia que “a hidroxicloroquina é a cura” para a COVID- 19, algo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) nega.

Ao verificar a foto do cemitério na rua, Maldita.es percorreu um caminho interessante. Por meio de uma busca reversa de imagens no TinEye, descobriu que o registro mais antigo levava a um artigo do jornal britânico The Independent compartilhado na plataforma Yahoo. A foto que queriam verificar ilustrava o texto.

A equipe de checadores examinou, então, o crédito da foto e encontrou a original nos arquivos da EPA (Agência Européia de Fotografia, em inglés). Em seu site oficial, fica claro que se trata de uma captura do fotógrafo Idrees Mohammed, feita em 27 de abril de 2021, na Índia. Segundo a descrição oficial da imagem, trata-se da “celebração de um funeral em massa para as vítimas de COVID-19 em um crematório em Nova Delhi”.

Lembre-se do seguinte

– Onde há medo e pânico, há desinformação.

– Podemos tratar os vídeos como uma sequência de imagens e usar ferramentas online gratuitas para fazer pesquisas reversas com frames.

– As principais ferramentas gratuitas para análise de fotos são: Google Images, TinEye, Bing e Yandex.

– Use o Google Translate.

– Observe o crédito das fotos. Eles podem indicar caminhos rápidos para você concluir sua verificação.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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