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#ComDados: Boatos sobre fabricantes de vacinas cruzam fronteiras e migram entre redes sociais

#ComDados: Boatos sobre fabricantes de vacinas cruzam fronteiras e migram entre redes sociais

abril 28, 2021

Neste espaço de análise semanal, discutiremos conteúdos falsos relacionados à COVID-19 e o impacto que isso tem na América Latina. 

Por: Cristina Tardáguila

Antes da pandemia, poucos de nós sabiam dizer quem eram os fabricantes de vacinas. Não tínhamos muito ideia de onde vinham as injeções contra hepatite, meningite e febre amarela. Não debatíamos (pelo menos de forma tão agressiva) as substâncias usadas nas vacinas, a forma como as autoridades médicas e de saúde as testam ou seus possíveis efeitos colaterais. A morte de mais de 3,1 milhões de pessoas por COVID-19 mudou tudo isso – para melhor e para pior.

Saber mais sobre o setor farmacêutico é definitivamente bom e necessário. Mas o excesso de informações ou a falta de cuidado com os dados produzidos pela área podem contribuir para a expansão do movimento antivacinas e, consequentemente, retardar o fim da pandemia.

Entre março e abril, checadores de fatos na América Latina detectaram falsidades relevantes sobre quatro fabricantes de vacinas contra a COVID-19. A cubana Sovereign 2, a europeia AstraZeneca, a alemã Pfizer e a americana Moderna entraram na linha de fogo dos desinformadores, dando sinais claros de que a mentira não tem limites nem fronteiras.

O Sovereign 2 e a OMS

No dia 5 de abril, uma página do Facebook que tem cerca de dois mil seguidores e é controlada da Argentina comemorou que, em maio, o país sul-americano compraria a vacina cubana contra o COVID-19. A nota, assinada pela “Agencia LatinoAmericana Avanzo”, acrescentava que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tinha dado “uma categoria de excelência à vacina cubana” e que ela serviria “até mesmo para uso pediátrico, algo que nenhuma outra vacina havia alcançado “.

Esse conteúdo falso se espalhou pelo continente com rapidez.

No dia 10 de abril, a mentira sobre a Sovereign 2 já havia chegado ao Uruguai graças a uma página na web que gerou um único link e oxigenou o assunto. A fraude foi compartilhada mais de 900 vezes só no Facebook.

Segundo o Buzzsumo, ferramenta que monitora a viralização de conteúdo na internet, outras quatro páginas se juntaram ao exército de desinformadores menos de 24 horas depois, conseguindo registrar mais de 3.800 interações com a mentira sobre a OMS e a vacina cubana.

“A notícia é falsa”, tuitou BioCubaFarma, grupo empresarial da indústria de biotecnologia e farmacêutica de Cuba, após a repercussão. “As 5 vacinas candidatas estão em ensaios clínicos. Os resultados obtidos até agora são muito positivos. Temos certeza de que continuarão a ser excelentes resultados, mas devemos aguardar os tempos de avaliação exigidos”.

Ou seja, não existe “categoria de excelência” nem uso pediátrico. A falsidade procurou associar as duas ideias, insinuando que os cubanos estariamm dispostos a testar vacinas com crianças antes do resto do mundo.

AstraZeneca e as estrelas

A AstraZeneca entrou na linha de fogo dos desinformadores via YouTube. No início de março, um canal colombiano com mais de 15.000 assinantes publicou que, “em latim, Astra Zeneca significa matar estrelas (apagar sua luz)”. Em menos de uma semana, a falsidade chegou à Espanha por meio de páginas no Facebook e de grupos de WhatsApp. De acordo com o CrowdTangle, outra ferramenta usada para monitorar conteúdo, pelo menos sete páginas postaram a mentira colombiana no NewsFeed, aumentando a hesitação em relação à vacina que tantos questionamentos enfrentou na Europa.

E, antes que haja mais dúvidas, o nome da empresa não tem nada a ver com estrelas. Ele é resultado da fusão do laboratório sueco Astra AB com a farmacêutica britânica Zeneca Group. Que nenhuma teoria da conspiração cresça com base nessa loucura semântica a partir de agora.

Moderna e beisebol

A Moderna foi amplamente acusada ​​de ser responsável ​​pela morte do famoso jogador de beisebol Hank Aaron. No início de janeiro, Aaron tomou a primeira dose da vacina contra COVID-19 e se tornou uma espécie de ícone para que os idosos que vivem nos Estados Unidos também se vacinassem.

Duas semanas depois, porém, Aaron faleceu em casa, dando lugar a uma avalanche de falsas conexões, propogadas até mesmo por semi-celebridades (como é o caso da esposa de um jogador de basquete da NBA).

De uma vez por todas, atenção. A Moderna não tem nenhuma conexão com a morte de Aaron. Isso é o que afirmam os legistas que viram o corpo do ícone do beisebol. Em uma nota, seu antigo time de beisebol também reagiu e publicou que Aaron faleceu dormindo, pacificamente. Não houve qualquer relação com a COVID-19.

O CEO da Pfizer

O caso da Pfizer também merece destaque. Usando printscreens de uma matéria publicada pelo jornal argentino Clarín, muitas pessoas foram às redes sociais questionar o que seria uma recusa do CEO da farmacêutica, Albert Bourla, em receber a vacina anti-COVID que sua própria fábrica havia criado.

Foi o trabalho de vários fact-checkers – não apenas em espanhol e português – que ajudou a mostrar que esse conteúdo era enganoso. A nota do Clarín era de dezembro de 2020, quando a estratégia de vacinação nos Estados Unidos incluía trabalhadores da saúde e pessoas residentes em asilos. Bourla tinha 59 anos e não se encaixava na descrição – mas aqueles que desinformam não parecem se importar com isso.

A verdade é que Bourla recebeu a segunda dose da Pfizer em março deste ano e passa bem.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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