Colunistas
Quatro razões pelas quais o enfoque em soluções dá muitíssimo valor (e diversidade) à cobertura de saúde
Por: Javier Drovetto
Muitas seções de saúde dos meios de comunicação concentram, geralmente, grande parte de seu esforço de cobertura em poucos eixos: doenças sazonais, políticas sanitárias e avanços científicos, farmacológicos ou de tratamentos médicos. E, claro, a esses três eixos soma-se um quarto: a cobertura rigorosa da pandemia.
Entretanto, o tema “saúde” tem características que fazem com que ele seja uma área que, jornalisticamente, pode ser abordada com uma infinidade de perspectivas e oferece oportunidades extraordinárias para trabalhar uma cobertura com enfoque de soluções.
Vou mostrar quatro dessas características com o objetivo de inspirar tanto aqueles que nunca trabalharam com esse enfoque, como aqueles que pretendem identificar uma história que permita planejar uma reportagem de fôlego. Também me proponho a dar ideias de coberturas para jornalistas com e sem experiência em temas de saúde.
Antes de enumerá-las, é importante dar uma definição muito breve deste enfoque. Dizemos que o jornalismo de soluções é a cobertura rigorosa e baseada em evidência (séria e mensurável) das respostas que pessoas, organizações e estados oferecem aos problemas sociais.
1. Há tantas experiências de “soluções” como pessoas com problemas de saúde
As sociedades se organizam para atender seus problemas de saúde. As nações fazem isso, por exemplo, com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Um estado faz isso, provavelmente, na condução de um Ministério da Saúde nacional.
Também faz isso, por exemplo, um povo indígena, uma comunidade trans de uma região, as pessoas de determinada cidade que são portadoras de HIV e cada família em suas casas.
Por isso, me atrevo a dizer que com algumas poucas perguntas os jornalistas podem chegar a identificar histórias interessantes para transformar em reportagens e fazer uma cobertura de saúde mais diversa.
Vejamos um exemplo:
Em plena quarentena argentina, uma jornalista (Ximena Beilin) se faz as seguintes perguntas e, logicamente, faz as apurações necessárias para encontrar as respostas que permitam a ela identificar uma história para contar:
* O isolamento levou à diminuição na doação de sangue? Sim.
* Os bancos de sangue fazem campanhas para compensar essa diminuição? Sim.
* Existe algum banco de sangue que tenha feito uma campanha exemplar? Sim.
O resultado é esta noticia publicada no site Infobae: Cómo hizo el Hospital Garrahan para no tener nunca faltantes en su banco de sangre, ni siquiera en pandemia
2. O atendimento de saúde é registrável e pode nos dar uma evidência sólida
O posto de saúde, a tenda de vacinação, o centro de saúde, o hospital. Todos esses espaços fazem registros do que fazem. Mais cedo ou mais tarde, os jornalistas terão acesso a dados para ter evidência sólida e mensurável do impacto da implementação de uma política pública sanitária, um novo tratamento ou uma vacina.
Escrutinar o impacto das ações usadas no atendimento à saúde em uma determinada população oferece muitas oportunidades para os jornalistas trabalharem temas de saúde ancorados no enfoque de soluções.
De alguma forma, é isso o que o cronista e escritor Javier Sinay fez com a reportagem Cómo el activismo por los tratamientos gratuitos logró reducir un 68 % las muertes por VIH en Sudáfrica.
A pregunta que você pode fazer a si mesmo é: sobre qual política sanitária me interessaria conhecer seu impacto em detalhes? A resposta pode ser sua próxima história.
3. As “soluções” sobre temas de saúde geram um interesse universal
Além das particularidades que aparecem dos distintos sistemas de atendimento de saúde, o nível de desenvolvimento socioeconômico, o clima ou a atividade econômica que predomina em cada país ou região, a maioria dos problemas de saúde são compartilhados a nível global.
Essa característica faz com que um leitor latino possa achar realmente interessante saber como um país europeu atende ou previne com sucesso a obesidade, para citar um problema de saúde muito conhecido.
Na mesma linha, dentro de um mesmo país é preciso conhecer as experiências de sucesso nos diferentes estados, províncias ou municípios. Porque as mesmas doenças e com similares prevalências transitam, em geral, em sociedades diferentes.
Com isso, abre-se aos jornalistas um universo de histórias que provavelmente seriam consideradas não interessantes para seu público-alvo.
As duas notícias a seguir, de uma série especial chamada “A Argentina possível”, do La Nación, são um bom exemplo sobre a que me refiro.
* El modelo español para aumentar los trasplantes que inspira a otros países
* Obesidad: las claves que le permitieron a varios países controlar la epidemia
4. Explicar um problema de saúde a partir de uma ação que busca arrumá-lo
Reportar como uma pessoa, organização ou estado tenta solucionar uma doença é uma boa forma de explicar uma doença, conhecer seus sintomas e promover hábitos preventivos, sem jogar o leitor em uma espiral de pessimismo.
O enfoque de soluções permite explicar muito bem as dimensões de um problema porque para contar a solução ou o plano que permite abordar esse problema com sucesso é necessário explicar por que essa “solução” deu certo e como atuou nas distintas dimensões do problema.
Além disso, é uma boa maneira de reconectar o público desconectado dos meios porque consideram, principalmente, que os jornalistas colocam um excesso de negatividade no que comunicam.
A notícia intitulada “Una app que ayuda a personas con esclerosis múltiple a reducir la fatiga y anticipa el futuro de la salud digital”, de Daniela Chueke Perles, é um bom exemplo de como explicar uma doença complexa como a esclerose múltipla.
Em resumo, o enfoque de soluções permite, como meio ou jornalista, que a cobertura de temas de saúde toque quatro aspectos: maior diversidade de temas, rigor na cobertura de anúncios, impacto em novos públicos e na utilidade informativa.
Sobre o Prêmio Roche
O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca premiar a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade sobre temas de saúde e ciência na América Latina, integrando os olhares sanitário, econômico, político, social, entre outras áreas de investigação no jornalismo.
Para mais informação ou para tirar dúvidas sobre a décima edição do Prêmio Roche, escreva para o email: premioroche@fundaciongabo.org