Colunistas
Como abordar pautas de saúde e imigração no jornalismo
Por: María Laura Chang
Os motivos que levam as pessoas a migrarem são importantes. Conhecer quais vias são as mais usadas e as formas em que os imigrantes se transladam também é fundamental. Mostrar como eles estão sendo recebidos em seus destinos e os processos de integração não deixa de ser relevante. Ainda assim, pensar no bem-estar das pessoas e em como elas são afetadas pelo processo migratório pode ser essencial quando queremos fazer uma cobertura completa e responsável sobre migração.
Falar de saúde na migração não deveria ser uma opção, mas uma obrigação que os jornalistas devem ter ao abordar o tema. A saúde na migração não se olha apenas como as feridas que a viagem pode causar, ou o acesso dos migrantes aos sistemas de saúde fora de seus lugares de origem. É um tema muito mais complexo que abarca desde as motivações de um grupo de pessoas para sair, os riscos enfrentados pelo caminho, a vulnerabilidade em que estão imersos, se é o caso, e depois, a integração em seu novo lugar de residência.
Em Huir Migrar Parir, trabalho vencedor do Prêmio Roche 2021 na categoria Jornalismo Escrito, decidimos separar a cobertura em três momentos para entender as implicações em matéria de saúde que pudessem afetar uma população determinada em cada um deles. Se bem nossa população estudada eram mulheres venezuelanas grávidas imigrantes, este esquema pode servir a qualquer jornalista que pretenda fazer uma cobertura de uma pauta de saúde e imigração, porque dessa forma podem analisar as descobertas em cada etapa e fazer uma análise mais completa. Esses são os momentos a ser separados:
A saída
Muitos imigrantes não têm acesso à saúde em seus países de origem e isso pode ser um dos motivos que os leva a sair. No caso do nosso projeto, entendemos que para as mulheres grávidas é fundamental o cuidado que podem receber durante a gestação e, no caso venezuelano, isso estava sendo negado a elas. Mas elas não são as únicas que precisam de uma atenção especial. As pessoas portadoras de doenças crónicas ou raras, os idosos, até as crianças e os adolescentes, precisam de certos cuidados de saúde, e, se em seu país ou cidade eles não os têm, suas vidas correm perigo. Nosso trabalho jornalístico deve explicar como funciona (ou não) o sistema de saúde no lugar que se deixa para trás, e como isso influi na decisão de partir.
O caminho
As pessoas que migram em contextos de vulnerabilidade, que atravessam fronteiras perigosas e vários países antes de chegar a seu destino, colocam em risco as próprias vidas no caminho. Além das feridas físicas e psicológicas que a travessia pode causar, é fundamental falar com instituições e organizações que prestam ajuda a essa população. Difundir qual é a legislação de saúde do país pelo qual os imigrantes passam para saber quando e aonde ir a um hospital, ou encontrar os mutirões de saúde que organizações e governos realizam nesses lugares de passagem pode ser uma grande ajuda para os imigrantes.
A chegada
Uma vez que as pessoas migrantes se estabelecem em um lugar, é necessário que conheçam muito bem como o sistema de saúde funciona. Também é importante narrar as irregularidades que podem afetar a população migrante no atendimento de saúde a eles; por exemplo, indicar quais são os tramites que elas devem fazer para se inscreverem em uma assistência social, ou quais documentos são necessários para isso pode ser uma boa ideia. Além disso, é importante saber o que os Estados receptores estão fazendo para garantir o acesso à saúde dos migrantes, sejam programas focalizados nessa população, sejam políticas públicas que os beneficiem.
Claro que essa não é a única forma de olhar a saúde na migração e tampouco é a única estrutura que funciona. Existem diversas maneiras de se narrar a realidade, mas levar em conta essas etapas e o que acontece nelas é uma forma de conseguir a informação mais completa possível.
Para quem se interessa em falar sobre a saúde na migração pela primeira vez, alguns dos temas a serem levados em conta podem ser como as doenças afetam de formas diferentes a população migrante, assim como encontrar pessoas que migram para ter acesso a um tratamento médico que lhes foi negado em outro lugar.
O mais importante a ser levado em conta é que sempre que falamos de saúde e migração, existe um marco legal internacional de direitos humanos que obriga as autoridades a dar atenção especial ao tema e que, como jornalistas, não devemos ignorá-lo.
Sobre o Prêmio Roche
O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina e da Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca premiar a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade de pautas de saúde e ciência na América Latina, integrando sanitário, econômico, político, social, entre outras áreas de investigação do jornalismo.