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Estudos médicos no jornalismo: dicas para escolhê-los e evitar erros

Estudos médicos no jornalismo: dicas para escolhê-los e evitar erros

março 25, 2021

Para a cobertura de temas de ciência e saúde, os estudos médicos sempre foram parte das fontes ou recursos para identificar temas relevantes ou dar peso e dados à informação a ser publicada. Por isso, é vital que os jornalistas responsáveis pela seção de saúde dos meios de comunicação saibam analisar e checar esses documentos para saber se podem ser úteis às suas histórias.

Para Liliana Sánchez Andrés, jornalista argentina e vice-presidenta de Programação Digital em  HolaDoctor.com, “o jornalista de saúde que está brigando com um título precisa averiguar o que há por trás desse título”, uma vez que – segue – esse tipo de jornalismo é um dos mais difíceis pelo compromisso gerado com a audiência. “Porque a verdade que temos que cobrir envolve a vida das pessoas”.

No contexto atual invadido pela desinformação e a incerteza, levando em conta a pandemia causada pela COVID-19, o compromisso do jornalista de saúde com a população se intensifica e, no mar de fontes que surgiram em meio a essa cobertura, os estudos médicos podem ser uma base para a verdade. Por isso a importância apontada pela jornalista argentina, de que os jornalistas sejam tradutores e intérpretes da linguagem científica para que o público possa captar a notícia verdadeira existente em um título atrativo.

Onde encontrar estudos médicos?

Às vezes, o jornalista de saúde encontra o que pode ser notícia em notas de agências de notícias, comunicados de imprensa ou em publicações divulgadas em outros meios. Muitas vezes essas informações fazem menção ao estudo original, mas outras vezes não é assim. Em ambos os casos, indica Liliana Sánchez, é necessário que o jornalista investigue como essa notícia chegou até ele, a validez do comunicado de imprensa, e de onde surgiu o resultado ou a conclusão médica.

Em um seminario web apoiado pelo Prêmio Roche de Jornalismo de Saúde, a jornalista argentina compartilhou alguns lugares para encontrar estudos, publicados em sua maioria em boletins médicos ou journals.

Medline: Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NLM). A maior base de dados de ciências da saúde. Indexa desde 1960 journals sobre estudos biomédicos do mundo todo.

PubMed: Sistema de busca dentro da NLM que permite acesso às bases de dados de Medline, PreMedline e de suas sub-bases. É necessário revisar os tutoriais desse sistema para se fazer um uso correto.

PubMed Central: Oferece mais de 6 milhões de artigos.

Stanford University Libraries’ HighWire Press: Recurso gratuito que permite busca por título, publisher ou tema.

Free Medical Journals.

Como escolher o estudo médico a cobrir?

O primeiro que devem levar em conta os jornalistas de saúde ao buscar um estudo médico ou ao enfrentar-se a um já selecionado é que existem diversos tipos e nem todos têm a mesma utilidade na construção de uma notícia.

Segundo a jornalista argentina, “um estudo que analisa o efeito de um agente dentro de um tubo de ensaio não é a mesma coisa que um ensaio clínico feito com pessoas e que avalia o efeito desse mesmo agente em um indivíduo. Esse último tipo de estudo é que vai merecer a manchete do nosso meio, o outro talvez sirva para nós nos informarmos.

Liliana Sánchez ainda disse que a diferença se dá pela hierarquia de evidência que sustentam os estudos. Existem dois grandes tipos:

Descritivos: aqueles estudos nos quais os pesquisadores observam modelos ou tendências em pessoas ou populações que servem para criar teorias acerca de qual pode ser a causa de uma doença. Para um jornalista, esse tipo de estudo é útil para ver temas e pesquisar e para informar seus resultados.

Analíticos: nesses, o pesquisador infere as condições de um grupo que se compara com outro, por exemplo: aquele que recebeu tratamento em comparação ao que não recebeu. Esses estudos são mais atraentes para os jornalistas porque os resultados podem estar mais próximos de conclusões que afetam grupos específicos com uma determinada condição de saúde ou doença determinada.

A jornalista argentina agregou que esses dois grandes tipos de estudos se ordenam, de acordo com a qualidade ou hierarquia de sua evidência, em distintos tipos. Alguns deles são mais úteis para os jornalistas de saúde que outros pela informação que divulgam.

1. Estudos apresentados em forma de ideias, editoriais ou opiniões que se se publicam nos mesmos journals. São úteis para um jornalista porque dão ideias para notas.

2. Estudos in vitro: realizados em tubos de ensaio.

3. Estudos que vem de investigações feitas com animais. É preciso ter cuidado com esses trabalhos ao noticiar, porque podem dar uma imagem enganosa, além de que os resultados negativos não são publicados.

4. Séries de casos: são estudos descritivos de pacientes. São fracos para os jornalistas, mas ricos para a identificação de pautas.

5. Estudos de controle de caso: tem a intervenção de um pesquisador e comparam grupos.

6. Estudos de variáveis: os participantes são observados durante certo tempo. O jornalista deve ter cuidado com a informação desse tipo porque muitas vezes não são grupos similares em gênero, idade e origem, variáveis que podem interferir no resultado. Deve-se checar o número de participantes e o tempo de duração do estudo.

7. Metaestudos: os investigadores pegam estudos já feitos, e voltam a analisar e a fazer revisões sistemáticas. Ajudam a distinguir terapias e tratamentos que funcionam daqueles que não funcionam.

De acordo com Liliana Sánchez, todos os estudos devem ser questionados pelo jornalista, sem importar o nível de evidência que tenham. A comunicadora recomendou levar em conta o abstract ou resumo da publicação para identificar que tipo de estudo é, além de avaliar se os grupos do estudo foram bem escolhido ou se houve viés, e que tanto se pode generalizar a conclusão do documento ao público.

Dicas para evitar erros

“Os estudos podem nos dar a impressão de que estamos frente a determinada descoberta médica sem que tenhamos evidência suficiente para tanto”, afirmou Liliana Sánchez Andrés. Por isso, a jornalista entregou recomendações para identificar um possível engano desses recursos científicos.

– Perguntar sobre a fonte, o estudo, identificar a metodologia, ver se tem uma amostra importante.

– Nenhuma medição é exata. Os estudos têm margem de erro e devemos dar conta de determinado grau de certeza desse.

– Um estudo não é o final da história, é momento em uma investigação. Não generalizemos as conclusões que são tiradas.

– Não publiquemos apenas o resultado de um estudo, falemos com os autores sem nos importar que isso nos tome mais tempo. Ganharemos na qualidade da informação.

– Utilizemos recursos como a Biblioteca Cochrane para fazer uma revisão sistemática da informação, especialmente dos comunicados de imprensa ou estudos que chegam por outros meios. Essa ferramenta compara se a evidência de um estudo é ou não contundente.

Conheça aqui mais informações sobre o tema

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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