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Saúde sexual também é saúde: Conselhos para uma cobertura responsável
Por: María Laura Chang
A sexualidade tem sido um tabu, abordada superficialmente pelos meios de comunicação. Mas a realidade é que a saúde sexual é parte da saúde das pessoas e, ainda que haja muitos preconceitos sobre o tema, é vital um jornalismo que cubra esta pauta com responsabilidade.
Nesta coluna vou explicar como os jornalistas podem abordar a saúde sexual de uma maneira que ajude a que mais pessoas recebam informação para seu bem estar.
Em primeiro lugar, devemos saber que a saúde sexual e reprodutiva consiste em desfrutar uma vida sexual satisfatória com liberdade para decidir com quem se relacionar, sem risco de contrair doenças ou engravidar, ao menos que o último seja desejado. As pessoas têm direitos sexuais e reprodutivos, contemplados pelo marco legal internacional e pelas leis nacionais, dependendo do país e da região em que vivam.
Quando falamos de direitos sexuais e reprodutivos, muitas vezes focamos apenas na parte reprodutiva e deixamos de lado a importância da sexualidade no desenvolvimento das pessoas. Por isso, é bom lembrar sobre o que falamos quando falamos de direitos sexuais. O Fundo de Populações das Nações Unidas inclui os seguintes pontos:
– Direito a fortalecer a autonomia e a autoestima no exercício da sexualidade.
– Direito a explorar e desfrutar de uma vida sexual prazerosa.
– Direito a escolher os parceiros sexuais e viver a sexualidade sem nenhum tipo de violência.
– Direito a receber informação e ao acesso a serviços de saúde de qualidade em todas as dimensões da sexualidade, sem nenhum tipo de discriminação.
O trabalho comunicativo de jornalistas e meios de comunicação está vinculado a esse último ponto, relacionado com o direito de receber informação que ajude uma vida sexual satisfatória. Portanto, nosso dever é informar e educar por meio dos conteúdos que publicamos.
Mas como cobrir a sexualidade de uma maneira jornalisticamente responsável?
1. A perspectiva de gênero e diversidade é imprescindível
Quando falamos de sexualidade, é fundamental incorporar a perspectiva de gênero e diversidade, pois muitas vezes enfrentamos preconceitos e discriminações sexistas arraigados na sociedade. É comum encontrar informação centrada no prazer masculino ou conteúdos voltados unicamente a casais heterossexuais, compostos por pessoas cisgênero, o que deixa de fora grande parte da comunidade LGBTTIQ e inclusive favorece estigmas e formas violentas de se ver as relações.
2. Evite ficar no superficial
Sim, sexo vende. Mas isso não quer dizer que devemos ficarmos presos em publicar conteúdos repetidos que dão fórmulas simplistas para o prazer sexual. Por exemplo, além de saber como chegar ao orgasmo em 5 passos, pense se seu público realmente sabe o que é um orgasmo ou se o orgasmo não é um tema de estudo em si mesmo. O conhecimento sobre o sexo pode ser tão complexo e amplo como qualquer outro. Então tente se aprofundar mais.
3. Utilize fontes científicas
Seja responsável com cada informação que compartilhe, consulte especialistas e não se esqueça de dar crédito às suas ideias. O rigor jornalístico não deve estar de fora da tua abordagem da sexualidade. Por mais intranscendente que pareça, sempre será necessário o olhar de um especialista que tenha informação atualizada e baseada na ciência em seus trabalhos.
4. Fale mais sobre o prazer e outros benefícios do sexo
Parte importantíssima do exercício da sexualidade é a prevenção de infecções causadas via sexual e o planejamento familiar ou métodos anticoncepcionais, mas não apenas isso. Além do entretenimento e da diversão associados ao sexo, o prazer nos faz bem física e mentalmente. Por isso, também é preciso conhecer mais sobre isso.
5. Não tome nada como certo
Pode acontecer que algumas coisas te pareçam óbvias e que sinta que não vale a pena adicioná-las em seus trabalhos. Inclusive, se o público ao qual você se dirige parece saber muitos conceitos, lembre-se de que um esclarecimento por ser muito valioso para alguém que talvez não saiba bem os termos e tenha acesso ao seu trabalho.
Sobre o Prêmio Roche
O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina e da Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca premiar a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade de pautas de saúde e ciência na América Latina, integrando sanitário, econômico, político, social, entre outras áreas de investigação do jornalismo.