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#ComDados: Como transformar a morte em antídoto para as mentiras da COVID-19?

#ComDados: Como transformar a morte em antídoto para as mentiras da COVID-19?

agosto 03, 2021

Stephen Harmon tinha 34 anos, mais de 7 mil seguidores no Twitter e era um dos grandes anti-vacinas da Califórnia. Costumava brincar sobre a pandemia e dizer que acreditava mais na Bíblia do que no imunologista e conselheiro presidencial Anthony Fauci. Poucos dias antes de morrer de COVID-19, em 21 de julho, publicou que tinha “99 problemas e que a vacina não era um deles”. 

Hans Kristian Gaarder pensava de forma semelhante. Aos 60 anos, morava em um subúrbio de Oslo, na Noruega, e usava as redes sociais para divulgar teorias da conspiração sobre a pandemia. Atacava os programas de imunização e promovia festas em sua casa. Pelo menos duas delas ocorreram durante o avanço do novo coronavírus.

Gary Matthews era um pintor de 46 anos que morava no Reino Unido. Em seu perfil no Twitter, postava conteúdo que se opunha às medidas de confinamento, às quarentenas e, é claro, às vacinas. Sua família implorou-lhe várias vezes que usasse máscaras e cumprisse o isolamento social. Mas os amigos de Matthews tinham outra opinião. “Eles queriam sair, encontrar pessoas e dizer que não acreditavam nas informações do governo”, contou seu primo Tristan Copelan, após a morte de Matthews.

A história de Jodi Doering é igualmente chocante. Porém, revela outro ponto de vista, outro tipo de sofrimento. Doering trabalha como enfermeira em um pronto-socorro de um hospital em Dakota do Sul. Desde o início da pandemia, sentiu o efeito da desinformação em seu trabalho diário. Em novembro, acessou o Twitter e escreveu que aqueles que continuam a padecer de COVID-19 são aqueles que ainda acreditam que o vírus não é real. “Essas pessoas realmente pensaram que isso (a COVID-19) não chegaria até elas. Agora ficam em silêncio quando são intubadas. É como um filme de terror que nunca acaba. Os créditos nunca sobem. E nós (profissionais de saúde) ainda estamos lá. Um dia depois do outro”. 

Na luta contra a desinformação sobre a pandemia, é hora de a imprensa global ampliar o alcance de histórias como essas. Nós, jornalistas, devemos lembrar que além do número de mortos e doentes, que costumam ocupar horas e horas do noticiário diário, que além dos percentuais e dados concretos, que transmitem pouca emoção e humanidade, existem milhares e milhares de histórias com enorme potencial para impactar positivamente aqueles que ainda têm dúvidas sobre a COVID-19 e suas vacinas.

Como jornalistas e checadores de fatos, é importante que comecemos a reunir essas histórias e a dar-lhes espaço. Devemos humanizar as vítimas fatais e aqueles que sofrem com a pandemia em seu dia-a-dia de qualquer outra forma. 

Nas nossas publicações, é relevante que coloquemos fotos, que associemos os links dos perfis que as vítimas tinham nas redes sociais, que destaquemos a ideia de que elas eram cidadãos comuns, que viviam em países diferentes, falavam línguas diferentes e tinham diferentes profissões. Em comum, apenas dois pontos: a desinformação e a morte.

Ao relatar essas histórias tristes, os jornalistas devem, no entanto, entrevistar a família e os amigos da vítima fatal. Saber se eles concordam com a ideia de transformar uma perda em um exemplo social, um exemplo de algo que não deve se repetir. E, nesse processo, é necessário muito amor. Muita empatia.

De acordo com o American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, pelo menos 800 pessoas foram mortas por desinformação entre janeiro e março de 2020. Mais de 5.800 foram internadas em hospitais como resultado de notícias falsas sobre a COVID-19.

Portanto, não vamos demorar mais. É hora de alternar os números e as checagens que já conhecemos sobre a pandemia com relatos humanos bem amarrados. 

Leve em consideração

  1. Relatos humanos podem ter um impacto positivo na luta contra a desinformação pandêmica. Números e porcentagens alternados com histórias de cidadãos comuns que sofreram com COVID-19 podem ser muito ricos.
  2. Essas histórias devem ser empáticas, trazer fotos e comentários de amigos e familiares. É importante que as pessoas próximas à vítima concordem com a ideia de transformar a tristeza ou a perda em um exemplo para a comunidade. 

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