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#ComDados: Poderosos distorcem estatísticas sobre a luta contra a COVID-19
Por: Cristina Tardáguila
Na luta para ser reconhecido(a) como o(a) governante mais eficiente na batalha contra a COVID-19, políticos de vários países vêm distorcendo dados e divulgando comparações inadequadas. É preciso prestar atenção redobrada às frases e infográficos que trazem números sobre os programas de vacinação, o total de vacinas distribuídas e / ou aplicadas e sobre a capacidade do sistema de saúde de diferentes nações. Compará-los pode ser arriscado.
Em 2 de junho, o presidente Jair Bolsonaro disse em um pronunciamento feito na televisão brasileira que “o Brasil era o quarto país que mais vacinava seus cidadãos (contra a COVID-19) no mundo”. Em sua checagem, a Agência Lupa explicou que a frase só seria verdadeira se fosse considerado o número absoluto de vacinados. E, como o Brasil é uma das nações mais populosas do mundo, as informações estavam distorcidas (a favor de Bolsonaro).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no início do mês, o Brasil ocupava a posição 79 no ranking dos países com maior capacidade de imunização, com 45 milhões de pessoas já vacinadas contra COVID-19, com ao menos uma dose. Estava, portanto, longe das informações divulgadas pelo Presidente.
Em 16 de junho, Bolsonaro manipulou novamente as estatísticas, amplificando mais uma vez o sucesso do programa de vacinação brasileiro. Os checadores do Estadão Verifica publicaram outro artigo detalhado, explicando porque as informações seguiam erradas e porque elas não ajudavam no controle da pandemia.
“O dado utiliza um ranking do painel Our World In Data, da Universidade de Oxford, que apresenta a quantidade total de vacinas aplicadas, mas sem diferenciar a primeira e a segunda doses ou indicar qual a proporção da população que foi imunizada”, escreveram.
Ao criar uma lista que toma como critério o total de vacinas sem acrescentar a porcentagem da população imunizada, o banco de dados permite que pessoas mal intencionadas desinformem a partir disso. É importante, portanto, lembrar que, na maioria dos modelos epidemiológicos existentes atualmente, um país está protegido contra COVID-19 quando pelo menos 70% de seus cidadãos estão vacinados. O número absoluto de injeções é obviamente menos importante.
Situação semelhante à do Brasil foi vivida pelos checadores turcos do Teyit na última sexta-feira. Também com base no Our World In Data, o Ministro da Saúde turco postou no Twitter que seu país tinha “o melhor desempenho na taxa de vacinação” contra COVID-19 no mundo. Os verificadores ressaltaram, no entanto, que a lista que serviu de base para Fahrettin Koca não continha todas as nações e que bastava alterar a exibição dos dados para ver que há quatro países mais bem posicionados do que a Turquia.
As imagens que circulam nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem também são preocupantes quando comparam a capacidade do sistema de saúde de vários países. Um exemplo muito claro dessa situação foi detectado pelo ColombiaCheck em abril de 2020. Os senadores Paloma Valencia e Maria del Rosario Guerra, assim como Tomás Uribe (filho do senador e ex-presidente Álvaro Uribe), compartilharam um gráfico no Twitter em que a Colômbia aparecia como líder em capacidade de unidades de terapia intensiva (UTI) na América Latina.
“Embora os dados da Colômbia coincidam com os disponíveis, para os demais países os dados da tabela estão errados ou não há dados unificados que permitam uma comparação correta”, esclareceram os fact-checkers.
Mas a desinformação coincidia com o que os cidadãos queriam ver e ler na época, por isso ganhou muito apoio e foi compartilhada várias vezes.
Para levar em consideração
– Comparações eficientes envolvem territórios e populações de tamanhos semelhantes.
– As comparações econômicas devem levar em consideração o nível de desenvolvimento.
– Os números absolutos relativos a doentes, vacinados e / ou mortos são perigosos. Use taxas por mil ou 100 mil habitantes, além de informar o percentual frente ao total da população.
– Cuidado extra com todas as frases que carregam a expressão “maior do mundo” ou “melhor do mundo”. É muito possível que sejam exageradas. O mesmo vale para “o pior” e “o menor” do mundo.
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