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O que é e o que não é jornalismo de soluções, segundo Chani Guyot

O que é e o que não é jornalismo de soluções, segundo Chani Guyot

janeiro 14, 2020

Durante o seminário web “Jornalismo de soluções sobre temas de saúde”, com o jornalista Chani Guyot, diretor de RED/ACCIÓN, um veículo argentino especialista neste enfoque, o comunicador fez uma radiografia de como anda este exercício jornalístico na América Latina na atualidade. 

Em um primeiro momento, Guyot referiu-se às “audiências intoxicadas”, criadas pelo fenômeno das manchetes feitas para obter clicks. “A conversa social está associada com a super abundância da informação, temos muitos modelos de negócio. Os meios de comunicação não fazem mais que apresentar más notícias, e essas, as negativas, são compartilhadas nas redes sociais”, afirma. 

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Guyot indicou que esse fenômeno está relacionado com o viés pela negatividade, pois a informação sobre fatos negativos tem um peso maior que aquelas que se referem a eventos neutros ou positivos. “Sob a perspectiva da prática jornalística, temos que ter em conta como funcionam as sociedades e isso deveria nos dizer algo em termos éticos sobre a profissão.”

O que é jornalismo de soluções?

Chani Guyot insistiu que devemos abandonar a ideia de que o jornalismo de soluções é a publicação de boas notícias nos meios de comunicação, ainda que tenha um pouco a ver com isso. O jornalismo de soluções, afirmou, não é um substituto, mas mais um ingrediente que deveria estar presente no menu de cada veículo. 

“O jornalismo de soluções procurar falar sobre o que não funciona, olhar com raio-x os problemas e descobrir quais são as pessoas que estão tentando resolvê-los. É uma prática jornalística que se concentra nos problemas sociais e estruturais que oferecem uma versão mais complexa da realidade”, comentou. 

Além disso, Guyot também disse que o jornalismo de soluções é um espelho mais equitativo para a sociedade. “É verdade que os países estão atravessando problemas complexos, mas ainda assim há pessoas que estão fazendo algo para tentar resolvê-los. Devemos contar a história, reconectar as audiências com o debate público. 

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde vai entregar pela primeira vez uma menção honrosa de jornalismo de soluções. Todos os trabalhos inscritos estarão participando automaticamente a este reconhecimento, que busca promover a produção de histórias jornalísticas que investiguem, narrem e expliquem com profundidade as respostas que instituições, comunidades e pessoas estão desenvolvendo ante os desafios, problemas e brechas da saúde na América Latina. 

O que não é jornalismo de soluções?

Como o jornalismo de soluções é uma prática mais ou menos recente, ainda segue em formação. Não há uma política estabelecida para o tema. Mas Guyot insistiu que seria interessante tentar defini-lo, uma vez que pode se converter em um gênero próprio dentro da profissão. 

 “O jornalismo de soluções não é publicar apenas boas notícias, não é maquiar a realidade, não significa sermos porta-vozes de ongs, não é culto ao herói, não vem para substituir o jornalismo. Este enfoque tem a ver muito mais com um tipo de presença nos meios para que este se converta em um espelho fidedigno da realidade.”

O jornalista também explicou que também não é o último parágrafo de uma história sobre alguém tentando fazer algo, nem um convite ao ativismo.

Como funciona?

O diretor de RED/ACCIÓN explicou que este sim é um jornalismo atento aos detalhes e ao processo para explicar por que algo funciona, pois ajuda a entender um problema complexo. “É um jornalismo que permite entender com maior clareza as múltiplas causas dos problemas.”

Nao prevê o futuro

Guyot afirmou que com este tipo de jornalismo não há uma inclinação a uma única solução, mas que o objetivo é encontrar outras soluções que sejam complementares, pois as narrativas devem se enfocar em evidências. Não oculta as limitações, incógnitas e projetos. 

“Nossos meios de comunicação necessitam de jornalistas investigativos que se enfoquem no que não funciona. Há que explicar qual é o problema e qual é a solução, e o jornalismo de soluções, antes de gerá-las, busca entendê-las. É cético, é questionador, como todo jornalismo, não compra uma resposta sem questioná-la antes, mas é mais aberto. Não procura ter a última palavra sobre o tema, mas habilitar novas conversas em audiências mais amplas.”

Faz da solução o eixo narrativo

“Aplicável a qualquer formato, o jornalismo de soluções olha os detalhes, já que o olhar panorâmico é insuficiente. Apresenta evidência dos resultados, porque só intenções não é suficiente. Mostra personagens e histórias de vida, mas mostra a solução como o eixo central da história. Enfatiza as ideias frescas e inovadoras, mas não as quantifica”, explicou Guyot. 

Ainda assim, o jornalista afirmou que em muitas ocasiões, neste tipo de jornalismo, questiona-se quem faz melhor em determinado tema, e que essa pergunta permite o descobrimento da origem das ideias. “É interessante ouvir os críticos do problema e apontar os obstáculos, de modo que seja observada a escalada das soluções.”

Muitas vezes o jornalismo de soluções pode ser a segunda nota sobre um tema publicado, já que desperta inquietação e com ela pode-se fazer uma grande cobertura. “É mais pensar como abordamos tal problema que acaba de acontecer para fazer uma cobertura mais rica e construtiva para a nossa audiência.”

Um dos riscos da má prática deste enfoque é que o jornalista se converta em um porta-voz das entidades. Entretanto, a boa prática do ofício requer falar não apenas com aqueles que participam da solução, mas com quem as recebe, pois a ideia não é só entregar o microfone para que alguém conte as coisas boas que faz para encontrar soluções. 

Para finalizar, Guyot afirmou que o enfoque de soluções é uma caixa de ferramentas, uma mentalidade, uma prática, e também uma orientação. “Se a pessoa consegue contar uma boa história, porque ela é relevante e está bem contada, pode-se considerá-la como um trabalho de jornalismo de soluções.”

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