Relator: Orlando Oliveros
Fotografia: Rafael Bossio
Jurados:
Luis Quevedo
Comunicador hispano especializado em ciência e tecnologia. Baseado em Nueva York, produziu rádio e podcast para National Public Radio (NPR), dirige e apresenta o informativo tecnológico CST para NTN24, colabora com o Jornal espanhol El Mundo e é cofundador da rede independente de podcasts Cuonda. Produziu e protagonizou dois premiados documentários sobre a evolução da espécie humana e o colapso da civilização.
Roxana Tabakman
Escritora e jornalista científica argentina, especializada em cobertura de saúde. Autora do livro La Salud en los Medios (Medicina para jornalistas, jornalismo para médicos) editado em espanhol e em português. Bióloga formada na Universidade Nacional de Mar del Plata. Integrou o laboratório de Neuroquímica da Fundação Campomar (hoje instituto Leloir) de Buenos Aires. Publicou artigos em La Nación e Pagina 12 da Argentina, La Vanguardia de Barcelona e a revista Perspectivas de la OPAS. Durante nove anos foi editora da seção de Medicina da Revista Noticias. Recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio Longines ao Jornalismo Destacado. Em São Paulo produz conteúdos jornalísticos em espanhol e português para Medscape, líder global em informação médica, e realiza crítica jornalística enfocando o jornalismo de saúde no Observatório de Imprensa.
Assessora médica:
Fernanda Hernández
Médica cirurgiã da Universidade Militar Nueva Granada, especialista em Epidemiologia e possui um mestrado em Administração em Saúde da Universidade del Rosario. Atualmente cursa um mestrado em Medicina Antienvelhecimento e Longevidade com a Universidade de Barcelona. Sua prática médica está misturada a uma trajetória longa e excepcional em meios de comunicação. Desempenha-se como editora e apresentadora da seção de Saúde de Notícias Caracol desde 11 anos. Atualmente, participa também no programa de rádio “Mañanas BLU”.
Introdução
Pelo quinto ano consecutivo, Laboratórios Roche da América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da FNPI- Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-Americano convocou e reconheceu a excelência do Jornalismo latino-americano nos temas relacionados com a saúde.
Nesta edição, 24 trabalhos na categoria Jornalismo Escrito e 19 peças audiovisuais na categoria Televisão e Vídeo foram selecionados entre as 489 inscrições provenientes de 18 países da América Latina, para serem julgados na etapa final pelos jurados escolhidos pela Fundação.
A etapa final de julgamento, foi realizada na cidade de Cartagena de Índias (Colômbia), no hotel Movich, e passou por duas jornadas que foram divididas entre os dias 3 e 4 de junho. Durante a primeira jornada, Luis Quevedo, Roxana Tabakman e Fernanda Hernández avaliaram critérios sob os quais nomearam ao vencedor e aos dois finalistas da categoria Televisão e Vídeo.
Ricardo Corredor Cure, diretor executivo da FNPI, deu as boas-vindas ao Júri e a assessora médica e reconheceu a independência deste trio para julgar cada um dos textos jornalísticos da etapa final. De igual forma, destacou o papel importante do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde como sendo uma conjuntura para identificar as problemáticas dos sistemas de saúde na América Latina e também como um cenário propício para apreciar a evolução da produção jornalística em diferentes países do continente.
Corredor Cure destacou o crescimento significativo das inscrições para o Prêmio em comparação com as edições anteriores, o qual funciona como um indicador do auge no qual se encontra o jornalismo em saúde na região.
Finalmente, agradeceu a presença do Júri e recomendou que a qualidade narrativa e científica dos trabalhos sejam os dois fatores decisivos na seleção do vencedor e dos finalistas na categoria Televisão e Vídeo.
Jornalismo de saúde: entre a responsabilidade e o rigor científico
Após terem se enfocado nas 19 peças audiovisuais que chegaram até a etapa final, Quevedo, Tabakman e Hernández enfatizaram os trabalhos que careciam do rigor científico necessário para fossem considerados vencedores ou finalistas do Prêmio. Para o Júri, a cobertura jornalística de saúde exige como requisito indispensável um fundamento científico concreto onde cada afirmação médica esteja sustentada sem deixar nada fora do seu lugar.
Isso está intimamente ligado a um componente de responsabilidade jornalística, pois quando se abordam temas relacionados com a saúde, estão sendo manejados discursos de persuasão perante audiência, ou seja, se está informando ao público sobre o funcionamento, vantagens e desvantagens de medicamentos e tratamentos médicos.
Por esta razão, os jurados advertiram sobre os riscos que corriam algumas peças que basearam suas histórias em pseudociências e medicinas alternativas sem sequer propor uma pluralidade de fontes que servissem para contrastar a informação ou enriquecer o debate interno da reportagem.
“Quem faz jornalismo, possui uma responsabilidade grande que se aumenta exponencialmente quando se refere à saúde. Em meio das pressões, o rigor é algo que nunca deve ser sacrificado. Fazê-lo debilita ao profissional e tem consequências, talvez piores, para sua audiência” afirmou Fernanda Hernández.
Sobre o componente humano
Os jurados destacaram também a necessidade de um componente humano para edificar uma história na cobertura jornalística da saúde. Ancorar emocionalmente o relato e apoiá-lo em uma narração biográfica livre de melodramas é a chave para realizar grandes reportagens. Quando este componente humano se estrutura de forma audaz com uma informação científica veraz e uma análise política, cultural e econômica adequada, se obtém uma cobertura jornalística ideal.
Este é o caso do vencedor e dos dois finalistas selecionados pelo Júri para a categoria Televisão e Vídeo. Como finalistas foram eleitos Médicos no vício de Álvaro Saraiva, Luiz Carlos Azenha, Diego Costa, Lumi Zunica, André Caramante, Camila Moraes e Luiz Guerra (Jornal da Record, do Brasil); e La invisible lucha contra la leucemia de Enrique Yavar e Rodrigo Bofill (Limonapps, do Chile). Sobre Médicos no vício, o Júri argumentou que trata-se de “um excelente exponente de investigação jornalística que ilumina um problema de consumo de drogas que possui arestas mais complexas e consequências mais amplas por afetar a profissionais da saúde. É um assunto no qual existe uma rede de silêncio que inclui a comunidade médica e autoridades e que é amplamente desconhecido pelos pacientes. A grande qualidade de produção, script e edição, além da investigação, foram motivos fundamentais para sua eleição como finalista”.
Sobre La invisible lucha contra la leucemia, os jurados afirmaram que trata-se de uma obra que “consegue tratar aspectos de um tema de saúde que não está exclusivamente centrado na doença ou na terapia médica. O trabalho inclui o aspecto familiar, social e legal atingindo um grande resultado. De forma especial, a dimensão econômica dos transplantes de medula no Chile, serve para destacar a desarticulação entre as decisões administrativas e suas inesperadas e em ocasiões graves consequências para a população. O tratamento do conteúdo médico teria se beneficiado com maior profundidade e rigorosidade”.
Finalmente, Quevedo, Tabakman e Hernández concluíram que o trabalho vencedor seria: Alzheimer música para recordar, de Paz Montenegro e Magaly Messenet (Canal 13, Chile), devido a que se apresenta como “uma obra audiovisual exemplar por seu tratamento, edição e conteúdo científico. Os autores conseguem utilizar a emoção e a empatia a longo de todo trabalho, além de abordar uma problemática em crescimento e uma terapia de fácil acesso, evitando o sensacionalismo e as falsas expectativas. A informação médica sobre a música como terapia é apropriada, clara, profunda e está integrada à história, apesar de incluir uma falha ao descrever o Alzheimer como causa de morte. O enfoque é positivo, centrado na qualidade de vida, com um respeito especial aos pacientes e familiares”.
Inovação científica versus narração clássica: um ponto de equilíbrio
Após escolher ao vencedor e aos finalistas da categoria Televisão e Vídeo, tanto o Júri quanto a assessora médica, manifestaram sua surpresa diante de um desequilíbrio metodológico nas inscrições, expondo que a grande maioria delas se centravam em relatos de vida e apelavam ao seguimento narrativo dos pacientes, enquanto que eram muito poucas as que se articulavam ao redor de um conceito ou avanço da ciência médica.
Diante disso, os jurados decidiram dar uma revisada nos trabalhos que previamente tinham sido descartados pelos pré-jurados para ver se encontravam alguma peça audiovisual que tratasse de um avanço médico. Desta exaustiva busca, surgiu um trabalho que foi reconhecido pelo Júri com uma menção honrosa, titulado Técnica que modifica DNA pode ser chave da cura de muitas doenças de Stephanie Lotufo, Álvaro Pereira Jr, Marilia Juste, Rodrigo Lima, Marcelo Benincassa, Eduardo Mendes, Adriano Sorrentino e Vicente Cinque (programa Fantástico, da TV Globo, Brasil), devido a seu tratamento, “adequado para uma audiência geral, de uma inovação tecnológica revolucionária em biomedicina. O trabalho se destaca entre todas as avaliadas devido a que se articula ao redor de um avanço científico através de vários recursos visuais e técnicos”.
Ao finalizar, o Júri e a assessora médica propuseram considerar para as futuras edições do Prêmio que, nas etapas técnicas e de pré-seleção, sejam manejados por parte dos pré-jurados alguns critérios de seleção mais favoráveis com os trabalhos no que diz respeito a inovações biomédicas e desenvolvimentos médicos, já que este também é um eixo central dentro dos temas estipulados nas regras do Prêmio.