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Pausas, autoavaliação, discernimento e companheirismo: desafios para os jornalistas em coberturas difíceis

Pausas, autoavaliação, discernimento e companheirismo: desafios para os jornalistas em coberturas difíceis

abril 15, 2021

Em conversa com Aldara Martitegui, jornalista e instrutora de mindfulness e coach do projeto The Self-Investigation, seguimos descobrindo mais sobre como combater o stress e a ansiedade em jornalistas durante o exercício da profissão, especialmente na conjuntura atual, de pandemia pela COVID-19.

“Nós jornalistas que trabalhamos com o noticiário fazemos parte da realidade que estamos informando (…) A situação pessoal se cruza com a profissional e não é fácil lidar com algo assim”, disse a jornalista espanhola.

Conheça suas reflexões e recomendações na entrevista a seguir:

Por que o stress, o medo e ansiedade que os jornalistas sentem na cobertura da pandemia da COVID-19 são diferentes de outras coberturas como guerras ou desastres naturais?

O stress ou a ansiedade que nós jornalistas temos ao cobrir a pandemia tem sido diferente. Enfrentamos estresses distintos: a organização do trabalho remoto, a necessidade de conjugar vida profissional e pessoal no mesmo espaço, a necessidade de estarmos permanentemente conectados com a atualidade. São estresses mais sutis que, por exemplo, ver cair uma bomba em uma guerra ou presenciar o resgate de vítimas de um terremoto e não nos damos conta do dano que eles vão fazendo.

A pandemia colocou os jornalistas no lugar do desastre de noite e de manhã e isso tem um alto custo emocional. Informar sobre uma guerra ou um desastre natural implica, muitas vezes, se deslocar até o lugar da notícia: sair de seu entorno. Com a pandemia, a notícia vai impregnando as nossas vidas.

Como evitar que fatores como as fake news, a desconfiança das fontes de informação, as inconsistências nos dados e a influência das redes sociais nas pessoas gere mais stress na rotina de um jornalista?

Eu ensino aos jornalistas a ferramenta “lócus de controle”, ou seja, analisar qual grau de controle temos sobre aquilo que nos gera stress. Refere-se a discernir em cada estressor a parte concreta que não depende de nós e a parte concreta que depende: onde podemos intervir e onde não.

Como jornalistas, em relação às fake news e a influência das redes sociais, talvez não possamos acabar com elas, mas podemos buscar maneiras de se opor a todo esse ruído com nosso trabalho jornalístico bem feito e nos esforçando mais para contrastar a informação com três fontes confiáveis. Talvez nisso encontremos a motivação e a inspiração para fazer melhor nosso trabalho e contribuir para um jornalismo de qualidade que faça contrapeso a toda essa “infoxicação”.

Como deve ser o apoio dos líderes ou diretores de um meio de comunicação a seus jornalistas na cobertura da pandemia para proteger a saúde mental deles?

A primeira coisa seria perguntar aos seus redatores o que precisam para trabalhar melhor. Convidá-los a gerar espaço em suas vidas, pausas, para dar atenção a como estão os redatores o que eles podem estar precisando. Fazer perguntas como: É dessa maneira que quero liderar minha equipe? Minha maneira de liderar contribui para um melhor jornalismo?

O líder ideal é aquele que entende que atrás de uma notícia há uma pessoa que precisa estar bem para fazer seu trabalho e, definitivamente, esse é o caso para se fazer um bom jornalismo, que não é necessariamente aquele que vende mais jornais ou dá mais audiência.

É importante pontuar que os líderes têm papel na saúde mental dos jornalistas, mas a reponsabilidade última recai sobre cada um de nós.

O apoio grupal entre jornalistas para enfrentar momentos de stress extremo ou ansiedade é recomendável? Ou é melhor deixar isso para os profissionais da saúde?

Durante as quatro edições de curso de gestão de stress para jornalistas que já fizemos durante essa pandemia vimos que o fato de poder compartilhar nossas próprias dificuldades e problemas com companheiros de profissão ajuda muito os alunos a entenderem o que acontece com eles e se sentirem acompanhados. Isso muitas vezes conforta e tem um efeito curador.

Quando o stress ou a ansiedade se transformam em patologias graves é conveniente procurar ajuda profissional. Como sabemos que estamos nessa situação? Quando deixamos de ser funcionais por causa do stress ou da ansiedade.

Conheça aqui outras dicas para os jornalistas lidarem com o stress

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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