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Ferramentas contra a desinformação na cobertura das vacinas contra a COVID-19

Ferramentas contra a desinformação na cobertura das vacinas contra a COVID-19

março 04, 2021

Para Cristina Tardáguila, diretora adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN), a desinformação é alimentada geralmente “pela militância de gente que está muito segura de um tema”, mas, no caso da pandemia da COVID-19, a jornalista brasileira identifica que o fenômeno está sendo gerado pela dúvida, a insegurança e o medo.

Essas e outras reflexões foram expostas no seminário web “Cobrir as vacinas: ‘doses’ contra a desinformação”, promovido pelo Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde, como parte da sua nona edição. Na conversa também participaram Pablo Linde, jornalista especializado em saúde no jornal El País da Espanha, e Carlos Álvarez, médico especialista em Doenças Infecciosas e coordenador nacional de estudos sobre COVID-19 na Colômbia.

Falando cada um desde sua área de conhecimento, os convidados desenvolveram um diálogo que gerou recomendações, reflexões e conclusões que deixamos abaixo como guia para a cobertura jornalística da atual etapa da pandemia, concentrada na distribuição e aplicação da vacina contra a COVID-19.

Os níveis da desinformação

Na corrida para detectar a raiz da desinformação sobre vacinação, o jornalista espanhol Pablo Linde determinou 4 níveis que podem desembocar em fake news:

1. Conspiração total: Inclui as pessoas que acreditam nas teorias mais extremas sobre a COVID-19 e a vacinação, como o suposto implante de um chip como sendo o verdadeiro objetivo desse processo. É uma população difícil de informar desde uma perspectiva científica.

2. Desconfiança nas empresas farmacêuticas: O grupo de pessoas que se mantém vigilante das intenções e ações dessas empresas. Para Pablo Linde, como jornalista, é necessário desmentir esses extremos sendo crítico e estando atento a se os membros dessa indústria proporcionam remédios de qualidade ou não.

3. Medo ao novo: Inclui as pessoas que não confiam em um medicamento que foi desenvolvido em um ano. O jornalista espanhol indica que é trabalho dos comunicadores explicar à população por que aconteceu dessa maneira e informar os prós e os contras das vacinas.

4. Transparência: Além da desinformação, Linde reflete sobre a exigência que se deve fazer a todos os envolvidos no processo de vacinação – desde as empresas até os governos – de entregar informação transparente para tomar decisões apropriadas sobre a divulgação que se fará à audiência, sem risco à desinformação.

Editor de desinformação?

Segundo Cristina Tardáguila, o aprendizado para jornalistas e verificadores de dados depois deste ano “é que não sabemos tudo” e que é necessário compartilhar o que não sabemos com nossos leitores e ouvintes.

Em meio a uma cobertura na qual faltam dados, há medo e as informações chegam incompletas, Tardáguila sugere que “precisamos de um site ou um ‘editor desinformativo’”, que, entre outras coisas, meça “o impacto que a informação pode ter tal qual como ela está”, considere o que aconteceria “se dão mais horas ou dias a um jornalista para investigar” mais, e que analise qual é a probabilidade de que uma notícia esteja mais redonda e eticamente correta. “É uma posição que faz falta em muitas redações no mundo de fala hispânica”, para evitar “a amplificação da desinformação”, expressou Tardáguila.

Credibilidade na informação oficial

Os especialistas em informação e saúde, participantes deste seminário web, também refletiram sobre a “politização dos dados sobre a vacina e as campanhas de vacinação”.

Carlos Álvarez, coordenador nacional de estudos sobre COVID-19 na Colômbia, assegurou que a situação é fruto de um problema prévio de credibilidade de governos e instituições. Ainda assim, é necessário separar a parte técnica da política quando se fala de vacinação para evitar “bombas perigosas” que acabem por politizar o problema da vacinação com consequências complexas.

“Se o objetivo é cobrir a vacina e como anda esse processo, é preciso buscar dados com fontes corretas e com os institutos técnicos de cada país, que podem facilitar informação que permita dar conceitos técnicos”, explicou o especialista. “Em cada país existe institutos técnicos que são poucos politizados e é importante compartilhar a informação que eles têm rapidamente, para que não haja informação filtrada por outras vias ou que, ao haver carência dessa informação, as pessoas comecem a buscá-la em fontes não corretas”, disse.

5 chaves para a checagem de dados durante a pandemia

1. Consulte a base de dados da aliança CoronaVirusFacts, que tem cerca de 12 mil mentiras ou falácias sobre a COVID-19 e o processo de vacinação, e é fruto do trabalho conjunto de 99 organizações conectadas que realizam checagens diárias. A base de dados está em inglês, espanhol e português.

2. Consulte a base de dados da aliança CoronaVirusFacts pelo Whatsapp, em espanhol ou português, no número +17272912606 ou neste link.

3. Tenha consciência de que, na cobertura jornalística deste tema, os dados estão mudando. É fundamental respirar um pouco antes de compartilhar informação que talvez não seja relevante e só confunda mais a audiência.

4. Antes de confiar na informação, pergunte-se: sabemos quem é o autor?, O autor costuma escrever sobre saúde?, O título reflete o que está no texto?, O texto oferece dados, mas consigo encontra-los nas fontes mencionadas no artigo?

5. Faça uma busca inversa das imagens que acompanham o artigo, por meio de ferramentas como Google Reverse Image, TinEye, entre outros apps gratuitos e que não demoram mais que um minuto para fazer a pesquisa. Para fazer esse exercício com um vídeo, só se necessita capturar um frame e fazer uma busca com a imagem.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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