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Lições sobre a cobertura de saúde na Venezuela pelo jurado do Prêmio Roche

Lições sobre a cobertura de saúde na Venezuela pelo jurado do Prêmio Roche

fevereiro 10, 2021

A complexidade do contexto político, social e econômico da Venezuela foi altamente representada no âmbito da saúde pelos trabalhos inscritos no Prêmio Roche 2020. O fato chamou a atenção do jurado da edição passada, que destacou a qualidade, a inovação e o esforço das equipes jornalísticas para levar informação ao público. Por isso, jornalistas venezuelanos foram os vencedores das categorias Jornalismo Digital e Jornalismo Sonoro, assim como da menção honrosa em Jornalismo de Soluções.

Segundo Marianela Balbi, jornalista venezuelana e jurada na categoria Cobertura Diária, existem vários fatores que explicam o auge do jornalismo no país e sua participação em outras premiações do tipo na América Latina além do Prêmio Roche. Aqui deixamos alguns desses fatores, apontados pelos jurados da premiação.

Relações “niveladas”, sem os meios tradicionais 
A publicação da informação por meios independentes, refugiados em novas plataformas e usando novas formas de contar a realidade do país é mostra do empenho dos jornalistas venezuelanos em seguir informando apesar das dificuldades. Segundo Marianela Balbi, tais plataformas “horizontalizaram as relações editoriais e o jornalista é parte da plataforma: provavelmente ele é seu próprio chefe ou parte da direção do meio”. Para a jornalista, isso se reflete no compromisso, risco e exigência demonstrados pelos comunicadores em seus trabalhos jornalísticos.

Necessidade de “contar o horror”
Balbi, diretora executiva do Instituto Prensa y Sociedad (IPYS) na Venezuela, também mencionou a busca relevante e corajosa empreendida pelos jornalistas de seu país para encontrar sempre uma maneira para contar “o horror que está acontecendo conosco”. Daí vem o bom desempenho das equipes jornalísticas venezuelanas em premiações como o Prêmio Roche, assim como a disposição para construir redes e associações com colegas e meios de comunicação em outras partes da região, criando uma comunidade para contar o que acontece no país. Segundo Marianela Balbi, essas parcerias também foram feitas com organizações de bases, grupos e organizações sociais do interior da Venezuela para, por exemplo, levar notícias a regiões remotas e transmiti-las em salas de projeção improvisadas.

Jornalismo de qualidade nascido da dor
María O’Donnell, jurada na categoria Jornalismo Sonoro, seguiu a mesma linha de reflexão e ressaltou como “as circunstâncias difíceis muitas vezes podem ajudar a se fazer um jornalismo de muita qualidade e comprometido”, referindo-se ao esforço dos venezuelanos para contar uma história dolorosa.

Vantagem digital
Adriana Amado, assessora da menção honrosa em Jornalismo de Soluções em 2020, comentou que foi interessante observar a forte presença da Venezuela na oitava edição do Prêmio Roche, retratada em trabalhos com qualidade, e afirmou que o fechamento de meios de comunicação – ocorrido antes do que em outros países da região – e o ataque à liberdade de expressão levou os jornalistas venezuelanos a “ocuparem o espaço digital com muito mais vontade”.
“Além das vicissitudes políticas, essa prática e necessidade de encontrar no digital e nas redes o espaço quase único para fazer jornalismo deu aos venezuelanos uma vantagem competitiva frente a outros países que seguiam cômodos no século passado”, disse.

Melhor cobertura de fora
Apesar de ressaltar o trabalho dos jornalistas venezuelanos e da catalogá-lo como um “exemplo do que é reportagem sobre saúde”, Cristina Tardáguila, jornalista brasileira e jurada na categoria Jornalismo Digital, também mostrou uma visão “do outro lado do sub-continente”. Segundo a jornalista, o acompanhamento desde outras nações não é adequado atualmente e considera necessário que os “grandes jornais do planeta” mantenham a cobertura do que ocorre nessa nação latinoamericana com a mesma expertise com a qual estão fazendo os meios e plataformas que sobrevivem dentro da Venezuela.
“O país está em crise há tanto tempo que já deixou de ser notícia”, afirmou. “Temos que dar maior atenção aos temas da Venezuela. Faz falta que a região cubra melhor o que está passando em termos de saúde naquele país.”

Vencedores venezuelanos

Em 2020, 57 inscrições de trabalhos no Prêmio Roche vieram da Venezuela. Três deles chegaram à final do processo de julgamento da premiação como favoritos até serem vencedores das categorias Jornalismo Sonoro e Jornalismo Digital, assim como da menção honrosa em Jornalismo de Soluções.

Conheça aqui o conteúdo desses trabalhos jornalísticos e mais informações sobre seus autores:

– La mala leche de los CLAP, publicado em Armando.info – vencedor em Jornalismo Digital.

– Condenado a morir de tuberculosis, de El Pitazo – vencedor em Jornalismo Sonoro.

– Tiempos de malaria en Venezuela, publicado em Prodavinci – menção honrosa em Jornalismo de Soluções.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em parceria com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo, que busca reconhecer a excelência e estimular a cobertura jornalística de qualidade relacionada à saúde na América Latina.

Em 2021 os melhores trabalhos serão reconhecidos nas categorias Jornalismo Escrito, Jornalismo Audiovisual e Cobertura Diária. A pessoa ou equipe jornalística vencedora de cada categoria (no caso de um trabalho coletivo, a equipe deverá escolher um representante) receberá uma bolsa de estudo de até 5.000 dólares. Em cada categoria será dada uma menção honrosa para o tema de acesso à saúde; uma menção honrosa também será concedida em jornalismo de soluções e outra em cobertura jornalística da COVID-19.

Tem até 9 de junho de 2021 para registrar seu trabalho. Conheça as bases do Prêmio aqui. Seu trabalho merece ser reconhecido!

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