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Conselhos para a cobertura da COVID-19, segundo vencedores do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde

Conselhos para a cobertura da COVID-19, segundo vencedores do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde

maio 06, 2020

Um dos aprendizados na cobertura da emergência sanitária causada pela COVID-19 é que não se faz a cobertura sozinho. O trabalho em equipe e a colaboração entre colegas e diferentes meios de comunicação são estratégias válidas para atingir o que deve ser o principal objetivo dos jornalistas: informar com rigor uma audiência que, além de tudo, enfrenta a incerteza dos tempos atuais.

Essa ideia é corroborada por Federico Uribe Velásquez, jornalista colombiano e vencedor do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde de 2013 na categoria Televisão e Vídeo. “O egoísmo profissional em tempos de crise é um mal que deve ser evitado a todo custo. O sentido de trabalho em equipe é a essência do sucesso na hora de informar”. Seguindo esse espírito de colaboração, e para divulgar as recomendações de jornalistas que fizeram coberturas de temas de saúde, entramos em contato com vencedores do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde. Oito deles deram suas opiniões.

O dia a dia em meio a uma crise

A COVID-19 tem gerado tantos traumas que existem algumas arestas novas a se levar em conta na cotidianidade do trabalho jornalístico. Airam Fernández, jornalista venezuelana e vencedora do Prêmio Roche em 2014 na categoria Internet, ressalta: “Todos temos medo, mas como jornalistas nosso dever é lidar com muita responsabilidade com nossas próprias emoções e com as emoções das pessoas que entrevistamos, para que esse medo não apareça nas histórias que estamos produzindo”.

Essas são algumas recomendações dadas pelos vencedores do Prêmio Roche:

1. Cuide-se: nenhuma notícia ou cobertura jornalística é mais importante que sua própria vida. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) publicou uma assessoria detalhada sobre a cobertura da epidemia do coronavírus.

2. Não sucumba ante a imediatez e a falta de rigor, pois existe uma obrigação moral com o exercício jornalístico e é preciso resistir à banalização dele.

3. Lembre-se que não é momento de protagonismo, mas de fazer um serviço público e de trazer luz em meio a confusão de dados e informações.

4. Pratique o jornalismo transparente e combata o sensacionalismo. Tenha o compromisso de dar mais e melhores elementos para a audiência analisar.

5. Redistribua as funções com sua equipe no caso de ausências, e reorganize o trabalho jornalístico segundo as circunstâncias de trabalho remoto ou cobertura com medidas de segurança efetivas.

6. Planeje uma rotina e cumpra-a; leia meios locais e internacionais, redes sociais, newsletters, fontes oficiais; converse com o editor e a equipe para armar uma agenda; realize um segmento minucioso das agencias ou porta vozes de governos.

7. Se você não é jornalista especializado em saúde, tenha muito cuidado ao usar descobertas de documentos acadêmicos que não tenham sido publicados ou que estejam em processo de edição. Antes de publicar o conteúdo deles, consulte médicos, cientistas ou pesquisadores.

8. Não esqueça das comunidades mais vulneráveis ou afetadas pela pandemia. É necessário pensar nos que não têm casa. É aí onde estão as histórias que merecem atenção.

9. Faça uso das hashtags #CoronaVirusFacts e #DatosCoronaVirus para encontrar informação checada, graças à aliança da International Fact-Checking Network.

10. Siga o curso da doença no mundo. O Center for Systems Science and Engineering da Universidade Johns Hopkins é uma boa ferramenta para isso, através do mapa interativo deles.

Como não cair na rotina informativa?

Com o passar dos meses, em um mundo em batalha contra a COVID-19, pode ser difícil para os jornalistas sair da rotina informativa na qual a pandemia está imersa. Os temas da cobertura talvez não possam ser mudados, mas é importante encontrar novas formas de contar histórias.

Juan Camilo Chaves, jornalista colombiano e vencedor do Prêmio Roche em 2018 na categoria Rádio, considera que é necessário unir o jornalismo com “outras disciplinas para inovar em formatos que nos permitam ampliar nosso storytelling: maior visualização de dados, mais estatísticas, mais design, mais arte, mais quadrinhos, mais humanidades digitais”.

Outras recomendações:

👉 Utilize a saúde como filtro para entender a realidade social.

👉 Não repita cifras de contágios e mortes sem questionar o que acontece, e fale sobre a subnotificação ou, ao menos, estime-a. Corrobore com outras fontes científicas o que dizem as autoridades.

👉 Crie informação para desmentir o que circula sobre a pandemia.

👉 Crie notícias positivas, temas relacionados à vida que tragam calma e suba o ânimo.

👉 Informe sobre o que está sendo feito em termos de políticas públicas para sair dessa crise.

👉 Acompanhe a preparação do mundo ante possíveis novas pandemias ou novas ondas da atual.

👉 Fiscalize o que os demais poderes estão fazendo para sair dessa crise e resolver todas as iniquidades visibilizadas com a quarentena.

👉 Não esqueça as histórias de saúde que não tenham a ver com a COVID-19 e que também merecem atenção.

Lições da pandemia

Para Iván Maestre, jornalista equatoriano vencedor do Prêmio Roche em 2019 na categoria Televisão e Vídeo, a principal lição que a COVID-19 e sua cobertura deixam é que os jornalistas “não são imunes a nada e ao jornalismo, em momentos como este, é tão vulnerável quanto os protagonistas de suas histórias”.

Publicamos aqui outras reflexões e lições a partir do trabalho realizado pelos vencedores do Prêmio Roche ante a atual pandemia e outras crises em seus respectivos países:

✅ Leve em conta os impactos imprevisíveis que a informação possa ter. Por isso, é importante a constante checagem dos dados e das fontes.

✅ Revise, de acordo com a linha editorial do teu meio de comunicação, quais vozes e quais formas de cobrir a pandemia são incluídas na conversa.

✅ Lembre-se que os jornalistas não podem mudar certas realidades e entenda que, algumas vezes, você está limitado a só escrever e publicar com o maior rigor e respeito possível.

✅ Não esqueça que a comunicação é um serviço, e não algo para servir ao ego ou para ser exclusiva.

A cobertura jornalística desta pandemia também deixará lições para o futuro para jornalistas e meios de comunicação. Essas são algumas destacadas pelos comunicadores vencedores do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde:

✅ Voltar à pausa e ao essencial, sem apostar pelo frenético.

✅ Descentralizar os meios e a diversidade no ecossistema midiático.

✅ Surgirão novas agendas de temas e formas de trabalhar. Mudanças no relacionamento com as fontes (entrevistas, coletivas de imprensa, etc.), com migração a formatos menos presenciais.

✅ Um novo valor para os meios pequenos, independentes, nativos digitais, com agendas próprias.

✅ Manter a prestação de serviço à sociedade e produzir informações de qualidade, sem se importar com o ambiente.

✅ Maior importância à mensagem do que ao meio ou formato dela, especialmente no audiovisual. Flexibilizar a vontade de pensar primeiro na imagem e não na profundidade do que se informa.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em saúde é uma iniciativa da Roche América Latina em conjunto com a Secretaria Técnica da Fundação Gabo. O Prêmio reconhece a excelência e fomenta o trabalho jornalístico de qualidade na cobertura de temas de saúde na América Latina.

Você tem até 31 de maio de 2020 para inscrever seu trabalho em alguma das seguintes categorias: Jornalismo Sonoro, Jornalismo Digital e Cobertura Diária.

Será entregue neste ano uma menção honrosa para uma cobertura do COVID-19. O objetivo é incentivar uma abordagem jornalística dessa crise sanitária e sua relação com a sustentabilidade dos sistemas de saúde na América Latina. Conheça as regras da menção honrosa e inscreva seu trabalho.

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