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Infodemia: como enfrentar este ‘vírus’ com jornalismo

Infodemia: como enfrentar este ‘vírus’ com jornalismo

abril 29, 2020

Quase todo mundo, nessa altura da pandemia, sofreu em chats ou grupos de aplicativos com aquele amigo ou familiar que não para de compartilhar informação falsa, mitos ou supostas curas para o COVID-19.

Essa é justamente uma das características da infodemia, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define como uma “quantidade excessiva de informação sobre um problema e que dificulta encontrar uma solução. Durante uma emergência, as infodemias podem difundir erros, desinformação e rumores. Também poder ser uma trava a uma resposta efetiva, assim como criar confusão e desconfiança nas pessoas em relação às soluções ou aos conselhos divulgados para prevenir a doença”.

Esse panorama se apresenta como um desafio para os jornalistas de saúde, que não apenas precisam verificar a informação, mas também devem “olfatar” quais, entre todos os dados disponíveis e aparentemente irrelevantes, podem ser úteis para começar a investigar histórias que respondam aos interesses e inquietudes de sua audiência.

As ‘armas’ do jornalismo

As notícias falsas, os rumores e as teorias da conspiração durante a cobertura de uma crise não nasceram nesta pandemia, mas, atualmente, se converteram em um fenômeno que dificulta o jornalismo rigoroso, ético e de qualidade. Nesse sentido, Airam Fernández, jornalista venezuelana vencedora do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde de 2014, propõe que o jornalista deve ser guiado pelos “5 princípios básicos do jornalismo definidos pelo mestre Javier Darío Restrepo, quando vivo: a verdade, a liberdade, o serviço, a justiça e a esperança”.

“Não se regula as notícias falsas. Elas devem ser eliminadas, porque não tem espaço em um jornalismo decente”, disse Restrepo em setembro de 2019, sobre uma pergunta feita ao Consultório Ético da Fundação Gabo, acerca das fake news e a possibilidade de regulá-las. O especialista em ética jornalística destacou a multiplicação, naquela época, de equipes de checagem de dados nos meios de comunicação como uma forma de identificar as fake news, pois, para Restrepo, é necessário reagir à mentira “com a mesma paixão com que se condena os ataques contra a liberdade de imprensa”.

Para Federico Uribe Velásquez, jornalista colombiano, vencedor do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde em 2013, os conteúdos multimídia “se espalham mais rápido que o contágio”. Por isso, o jornalista deve afiar ainda mais a visão, o olfato e a intuição para “identificar as fontes corretas, analisar os depoimentos com cuidado e filtrar esse acúmulo de dados para transformá-los em partículas tão finas que passem pelo filtro ético e possam ser moldados e amassados até serem convertidos em um produto informativo digerível que mate a fome de notícias do espectador”.

Contar a verdade, apesar de rumores e teorias da conspiração

No documento ‘COVID-19: Conselhos para Informar. Dicas para Jornalistas’, a OMS dá algumas dicas de como cobrir a pandemia apesar da infodemia, dando ênfase na veracidade das fontes oficiais e no perigo de rumores e teorias que encontram receptividade na internet, mas que não passam de caça clicks, servindo mais para ser compartilhado por causa da manchete chamativa, espalhando ainda mais a desinformação.

Aqui vão as dicas propostas no documento para proteger a informação:

1. Consulte fontes com credibilidade e oficiais, como o Ministério da Saúde de seu país, ou a Organização Panamericana da Saúde (OPS) e a OMS, em reposta à alta circulação de teorias conspiratórias e rumores. Incluir em sua notícia personagens sem as credenciais necessárias gera ruído e não expõe de maneira apropriada os riscos da doença.

2. Evite repetir informação errada ou sem sustentação científica. A reiteração desse tipo de informação pode fazer com que se tome por certo algo errado, causando temor e ansiedade nas pessoas.

3. Verifique os rumores e a informação suspeita. É preciso avaliar o nível de gravidade, a fonte e o alcance antes de desmentir ou repetir uma informação. Às vezes, desmentir uma informação que não alcançou uma grande audiência pode dar uma notoriedade que a fará parecer verdadeira. Nesse caso, recomenda-se esclarecer o rumor ou focar nos fatos sem mencioná-lo.

4. Procure evitar perspectivas de uma história quando não tenha base científica, seja algo irrisório ou pouco crível.

5. Evite incluir mitos ou remédios locais quando falar sobre tratamentos e utilize fontes científicas, baseadas na evidência.

Conselhos para a checagem

Quando falamos de armas ou ferramentas jornalísticas para combater a perigosa infodemia, a verificação de dados (fact-checking) é primordial. Existem muitos portais que fazem esse trabalho, como o Latam Chequea (composto por 22 meios de comunicação da América Latina e Espanha)

No caso da informação sobre o COVID-19, nesse site é possível revisar as bases de dados com as medidas dos governos nacionais de cada país da região para combater a pandemia. Além disso, o site checa os conteúdos que circulam frequentemente nos países membros, como falsas curas ou tratamentos ou teorias conspiratórias sobre a origem da doença, entre outras.

Há também outras formas de verificar a informação, especialmente a que circula online e nas redes sociais. Compartilhamos algumas delas, publicadas pelo Consultório Ético e pela Red Ética da Fundação Gabo. Esta última publicou os ‘4 pilares da checagem no jornalismo digital’, segundo Eliot Higgins, professor e fundador do site Bellingcat, que ajuda jornalistas investigativos.

1. Faça uma seleção apropriada de fontes. Verifique se são independentes, se realmente conhecem sobre o tema e se têm algum interesse que as impeça de dizer a verdade. O repórter deve consultar fontes com diferentes visões sobre o tema a ser publicado.

2. Revise o “Teste de veracidade” elaborado por David Yarnold, diretor executivo do San José Mercury News, no qual o jornalista deve se fazer sete perguntas ao trabalhar em uma notícia. Algumas delas são: A base da história tem apoio suficiente? Os protagonistas da história foram identificados? Entramos em contato com eles? Demos a todos os envolvidos a oportunidade de falar?

3. Revise a biografia de quem compartilhou o conteúdo a partir do qual você irá embasar sua informação, assim como outro tipo de conteúdo que compartilhe. Se se trata de um artigo ou documento online, cheque o site no qual ele foi publicado e de quem ele é.

4. Use TinEye ou a busca inversa no Google para ver em quais lugares a imagem foi publicada. Imagens antigas podem ser compartilhadas com um contexto equivocado ou reutilizadas de forma enganosa.

5. Revise o nome e/ou usuário da fonte nas redes sociais e no Google. Busque outros perfis. Comprove a reputação do site que publicou a informação e quem está por trás dele. Uma boa ferramenta para isso é o Storyful Multisearch.

6. Investigue outros artigos, faça uma busca com palavras-chave relevantes nas redes sociais para verificar se o encontrado está de acordo com a informação que você está revisando.

Também pode te interessar: Mais de 100 sites para verificar desinformação sobre o COVID-19.

Detecta desinformação em redes

Em artigo escrito para o jornal El País, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS, assegura que, se bem os governos e as empresas tecnológicas devem fazer sua parte, também é trabalho dos jornalistas, editores e até da audiência estarem atentos aos dados compartilhados. Não é segredo que as redes sociais são o centro de informação para a imensa maioria das pessoas e por isso são de suma importância na luta contra a infodemia.

O portal Tuotrodiario.com compartilha, em uma de suas publicações, algumas recomendações para identificar notícias falsas nas redes sociais.

1. Cuidado com as manchetes com afirmações surpreendentes, escritas com pontos de exclamação ou letra maiúscula. Possivelmente se trata de informação falsa.

2. É melhor não levar em conta as opiniões ou afirmações de cientistas que não estão ligados à área da epidemiologia.

3. Não reenviar ou retuitar informação que tenha sido contrastada ou confirmada.

4. Leve em conta a ortografia dos sites que você entra para buscar informação sobre o COVID-19 ou as mensagens que chegam pelas redes sociais. Os erros ortográficos ou de digitação são um indício de notícia falsa.

5. Seja responsável e informe quem te deu informação falsa sobre o erro no conteúdo para que o rumor não siga espalhando. Se você recebe constantemente informação falsa de um contato ou grupo, denuncie-los.

Sobre o Prêmio Roche

O Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde é uma iniciativa da Roche América Latina e da Secretaria Técnica da Fundação Gabo. O Prêmio reconhece a excelência e fomenta o trabalho jornalístico de qualidade na cobertura de temas de saúde na América Latina.

A convocatória para a oitava edição do Prêmio está aberta. Você tem até 31 de maio de 2020 para inscrever seu trabalho em uma das seguintes categorias: Jornalismo Sonoro, Jornalismo Digital e Cobertura Diária. Os trabalhos devem ter sido publicados entre 1º de janeiro de 2018 e 31 de dezembro de 2019, como estipulado nas regras da premiação.

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